Ouvi uma choradeira da janela.
De um povo que bate panela e faz dancinha.
Que se cala pelas outras corruptelas
e fecha os olhos para as mortes na favela.
A pátria sangra
Grita sem pudor.
E cada gota de suor que pinga, evapora.
Deve ser o inferno.
Enquanto isto os políticos mamam na teta gorda
e a igualdade fica cada vez mais desigual.
O braço forte da justiça, só nos pune.
E a liberdade é uma palavra distante.
Pelo menos para quem não tem renda.
Ô pátria alvejada.
Há buraco de bala até no meu coração.
De pauladas vou vivendo.
Salve! Salve-se quem puder.
Brasil, tu és um sonho de grandezas mil.
Mas o amor que vive em ti é utopia.
Os porcos vivem pulando na lama fria.
E no teu disforme céu, tristonho e ímpio
a imagem do negro escravizado resplandece.
Gigante somente pela crueza.
Aquela multidão cercando o corpo
Urubus, mas que tristeza.
E o noticiário, dizendo só o que lhes convém.
Brasil,
tua alma vive
mas respira por aparelhos.
E a tua falta de ação é constrangedora.
Nos salvem,
salvem.
Aqueçam o nosso peito.
Calem esta dor.
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