segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Trem

Você não estava lá.
Abri a porta e não a vi.
Abri o coração e você não entrou.
Já vou, amor.
Já vou.
O trem vai indo e eu também.
Muitas estações além.
É o futuro que não é meu.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Mau

Eu sou o barulho do vento na janela mal fechada.
Eu sou a chuva na hora indesejada.
Eu sou o medo.
O dedo em riste.
Eu sou o acinte.
Eu sou cruel.
Comigo e com os outros.
Eu sou tristeza.
Procurando pureza.
Correndo para onde tem luz.
Eu sou a escuridão.
E eu sei que isso te seduz.
Pois fechando os olhos, é quando melhor você pode sonhar.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Amor é

Eu não sei dizer o que o amor é.
Se aquele frio na barriga,
ou se aquela sensação enorme de querer voar.
Ou se não é nada disso.

O amor pode ser qualquer coisa que eu ainda não tenha.
Ou o amor pode ser tudo que tenho.
E não enxergo.

O ser humano tem a mania de turvar a vista para o que importa.
E assim fecha todas as portas.
Perde as chaves.
Muda o caminho.
Sem nunca experimentar a sensação de conquistar o ar.

Estrada

Quanta estrada.
Quanto céu pra vislumbrar.
Quanto ar para respirar.
E estrelas para contar.

E eu aqui parado.
Insensato.
Esperando a vida me levar.

Perdi

Eu perdi meu caderno com todos os escritos e pensamentos meus.
Perdi uma parte de mim jogada no abismo dos demônios dos eus.
Canto uma melodia triste,
quase um acinte para os ouvidos bons.
Meu mundo se tornou pequeno.
Escuro, pouco sereno,
ausente de paz,
nada são.

Como voar mais alto se tenho na perna um grilhão?
Como vislumbrar o futuro se olho as coisas sem emoção?

Cadê a paleta de cores?
Dê-me ela.
Deixa eu pintar uns novos amores
e um sorriso no coração.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Papel

Eu escrevi a tristeza porque vejo o acabar das horas.
Escrevo porque temo que a caneta acabe a tinta.
E não reste mais sangue em minhas veias.
Escrevo, essencialmente, para me sentir vivo.
Porque tenho nas letras o ar.
Porque no papel eu posso fazer qualquer papel.
Posso ser infinito, embora eu não queira.
Posso ser eu sem barreira.

Trapo

Naquele momento que você piscou os olhos,
eu parti.
Segui meu caminho.
Por estradas que nunca imaginaria passar.
Vi novas terras.
Um novo mar.
Até cheguei a velejar, cruzando o oceano frio.

Reconstruído, recosturado,
sou eu.
Um homem de alma de trapo.
Coração às vezes de rocha,
às vezes de papel.

Não sei cantar canção.
Mas tenho em meu peito muitas músicas,
que embalarão não só os meus sonhos,
como também as minhas conquistas.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

A deus dará

Adeus Dará,
Eu tenho que partir.
Meu futuro há de vir
e não canso de sonhar.

Adeus Dará,
fique com as partes de mim.
Com os trapos de roupa e de pele.
Com os olhares que perdi em ti.

Adeus Dará,
agora eu vou para outro mundo.
Pois tenho asas aqui em minhas costas.
Mas não tenho rotas, nem fórmulas.

Adeus Dará,
seguirei errante,
vagabundo,
vacilante,
sozinho.
Tal como uma estrela na imensidão do universo.

Adeus Dará,
a deus dará.
Rodopiante, vou soltando meus dias.
Até que a vida me queira ver parar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Espera. Não sei.

Espera. Não sei o que dizer. A noite caiu. Eu ri sem querer. Olhei as estrelas. E a lua tão bela. Estava eu na janela. Esperando você.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Presto

Ao passo que dou meus passos.
Passeio.
Cruzo o mundo.
Preencho-me de histórias.
Guardo-as na minha memória.
E na lembrança de quem me viu.

Por cada ponto que passei.
Deixei um pouco de mim.
Seja nos sonhos,
ou no que vivi.

Nem sempre acertei.
Às vezes chorei.
Suspirei.
E sorri.

E estou aqui.
Remendado.
Vivendo o presente.
Sentado, vislumbrando o passado.
Pensando o que será do futuro que eu nem sei se é meu.

Que fazer com os minutos que passam?
Não ser o resto do que resta.
Procurar a luz.
Nem que ela esteja saindo de uma lucarna.

Ser pouco não presta.

Aridez

Ao meu redor,
verdades.
Minhas.
Dos outros.
Do mundo.
Quanto aprendizado.
A cada segundo respirado,
eu não sou mais o mesmo.

De fraquezas e forças,
outro ser amanhece todo dia.
E é obrigado a caminhar, havendo ou não poesia.
Mesmo se o terreno estiver árido,
não se pode desacreditar do poder das sementes que temos que plantar.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Construção

E eu lá sabia que tinham mais olhos na escuridão.
Eu lá sabia que não era só eu.
Por trás daquele breu, havia um grande mundo.
Imensidão.

E cruzei as portas.
Abri todas as janelas.
Porque as asas em minhas costas queriam ganhar o ar.
Meu rosto queria sentir o vento.

E eu, consequentemente, buscava sentir uma esperança em meu peito.
Uma chama que a gente teima em pensar que está apagada.
Porque temos a mania de jogar o coração na lama.
E pisotear o nosso próprio sentimento.

Mas quem disse que somos só destruição?
Somos semente também.
Poesias e construção.