sábado, 31 de outubro de 2009

Fim dos tempos

Envenenei o veneno.
Soprei verbos inconcebíveis.
Desertifiquei a alma dos outros.
Luzes em falta.
Quiçá a lua ainda viva, muito embora não possua a carga lisérgica de outrora.
Preto, branco, sangue.
Pétalas mortas e murchas.
Silêncio na cidade.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Quebrar

Peças de quebra-cabeça se encaixam.
E com o tempo se fixam, eternas.
Dançam valsas infinitas,
até o último cintilar do vaga-lume.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Dança

Estrela fulgurante, que trazes?
- Um realejo.
De novo com gracejo.
- Esperava o quê, um beijo?
- Não sejas tonta, conceda a mim uma dança.

E bailaram, doces e sinceros, o sol e a lua...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Relicário

Chovia. No meio da madrugada, corria um homem sem rumo. Carregava, além de suas roupas, um pequeno relicário. Não era vigário, nem possuía crença alguma, mas parou em frente a uma igreja. Lágrimas salgadas se juntaram à água que brotava do céu plúmbeo. Em sua cabeça, entretanto, nenhum pensamento.

A chuva incessante e nenhuma música. Nem pessoas na cidade. Melancolia exacerbada num quadro, pintado com os dedos de algum ser, inacabado.

- Eis nós que somos incompletos. - Falou o homem.
- Eis nós que nos entregamos às tentações e paixões do corpo.
- Eis nós que matamos, roubamos e gargalhamos ao longo da fogueira.
- Eu condeno a todos, inclusive a mim...

Relicário ao chão. Fotos, impressões, tintas diluídas colorindo ruas. Silêncio. Alvorecer. Passos longínquos. Cantoria dos pássaros. O sol e o confessionário.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Blasfêmia

Assoprei as nuvens.
Empurrei-as para longe.
Moldei o céu.
Fui deus.
Em um sonho, ou lembrança que ouso lembrar.
Pintei aquele papel.
Fui dono do pincel,
até a tinta acabar.

Hoje, vagabundo,
nauseabundo, errando seres errantes.
Causo frio e tormenta.
Lavar o sangue incrustado das mortes que não evitei.

Aguardo a hora do ocaso, que não determinei.

domingo, 25 de outubro de 2009

Ausência II

Ausência presente...
Seja da batida opaca de uma gota que encontra o chão, ao lamento de um violão...
Ausência...
Portas abertas e casa vazia.

sábado, 24 de outubro de 2009

Natural

O terreno seco da alma não se rega com o pranto.
Faltam pratos para os que reclamam famintos.
Esgotaram-se os caminhos para os que preferem quedar na lama fria, sem poder vislumbrar qualquer sol.
Mares revoltos não tem qualquer direção.
No ponto mais alto de uma montanha,
nuvens.
Hoje deve chover.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Escolhas

Escolhas e caminhos.
Estradas sem volta...
Horizontes plenos e doces, nem sempre.
Presente que se tornará futuro.
Tem vezes que precisamos só sentar e ver o sol descer.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Jardim

Hoje entrei no meu jardim.
Cortei begônias velhas e cheias de mofo.
Retirei o capim bravo e volumoso.
Reguei.
Vou aguardar nascer naquele canto uma nova flor.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Fim

As sombras contaram segredos, mas ninguém ouviu. Quiçá as árvores, muito embora tenham estas permanecido caladas, a não ser pelo tilintar das folhas causado pelo vento.

Era o guerreiro e sua sina. Fim da guerra. Sonhos ao léu. Espadas e flechas ao chão.

Não havia motivo. Nem antes houvera. O mar de sangue varrera o campo, pela última vez.

Era entardecer, quando este gravou o nome na pedra que seria sua lápide. Voaram rosas, às vezes vermelhas.

Imperou mais uma vez o silêncio, interrompido por uma certa sinfonia de grilos. Vagalumes. Depois mais nada.

Nem a lua brilhou esse dia.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Rabiscos

Como é que pode?
- O quê?
Deixou escapar o sonho, ora.
- Mas nem o vi.
Sempre tem esse mal.
- Você que talvez enxergue demais.
Mas eu vi, eu juro, se uniu ao sol.

Cada foto é um momento.
Cada momento é uma história.
Cada história uma moldura.
Cada moldura um quadro pintado com o mais tênue pincel.
Aquarela de cores.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Amanhã SER

Hoje acordei poesia!
E no meio do quarto vazio, surgiu um sentimento.
Brilhando, como não via há algum tempo.
As paredes, todas brancas, não reluziam qualquer dor ou lamento.
No teto, não havia mais telhas, só algum anil.
Voar, sem levantar.
Será sonho?

domingo, 18 de outubro de 2009

DI vagar.

Imerso na escuridão da sombra do pilar,
olho para o céu.
Azul, como nunca fora.
Querer me unir ao nitrogênio é virar pássaro?
Ou simplesmente uma nuvem?

Provavelmente nunca obterei essa resposta.

sábado, 17 de outubro de 2009

Poeta, o Palhaço

Havia uma cachoeira

de água límpida e resplandecente.

E um arco-íris cercava o céu.

Lá na margem, sentou-se um Poeta com sua caneta multicolorida.

E fez seguir na correnteza seus pensamentos.

Profundos, cheios de alento.

Como gargalhadas ao cair do sol.


Foi tão grande a quantidade de sorrisos na cidade,

que olhando para as nuvens,

Poeta resolveu partir.

Criar felicidades onde nenhum ser tinha já ousado ir.

Pintou um nariz de palhaço.

E desenhou uma roupa que desejava desde sempre vestir.


Voou.

Como os pássaros.

Mas sem a necessidade de asas.

Guiado pela imaginação que o concebera.

Poeta.

Filho da pena e do papel.

Escrevendo letras que caíam saborosas como o mel,

que alguma abelha colhera em certa flor.


Em sua viagem, descobriu ainda mais o amor.

E os olhares agradecidos,

fazendo partilhar a emoção da vida plenamente vivida.

Sem deixar a escuridão incomodar,

Muito embora continuem anoitecendo os dias.


Pois sempre ascende o sol.

Acende a luz.

Brilham as estrelas.

Mesmo cedo.

Segue a poesia infinita.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Estações

Deixe o tempo passar
e a maçã rosar até cair do pé...
Veja o outono chegar,
folhas amarelas,
vôos breves,
sequidão da alma com o inverno.
Rostos na janela, esperando a chuva findar.
Uma rajada de luz a rasgar o azul.
Flores que enchem campos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mercador

Que trazes?
- Um pote.
Qual é o valor?
- Incomensurável.
O que contém?
- A morte.
Lhe pago vinte contos!
- Não é um preço digno.
O que preciso então para tê-la?
- Estar vivo.
Mas me tem como exânime?
- Certamente não.
Então me dê esse pote, homem!
- Se esse é o seu desejo...

Depois o barro encontrou o chão.
Afora o silêncio de alguns passos, nada mais foi ouvido.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Testamento

Deixou o sangue esvair por quê?
- Não havia mais tinta.
Perder a vida assim?
- Em nome da continuidade da arte.
Mas morrerá.
- Certamente.
Não entende que a arte parará nesse seu último ponto?
- Todos sabemos que o ponto final pode virar uma vírgula.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Poeta II

Deixa o devaneio pousar na ponta da caneta...
E esvair junto com a tinta.
Preencher o papel de uma cor qualquer.
Guardar um pensamento, para que não voe com o vento.
E continuar a viver!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Poeta

Assobio. Vejo as nuvens modorrentas deixando o céu, tal como se fosse uma cortina revelando o espetáculo do azul-anil. Há uma brisa aqui do alto da montanha. Não vejo o chão, mas não importa. Estou no lugar reservado para os deuses. O recanto que será meu túmulo.

O silêncio predomina e abomina qualquer outra forma de vida. Os passos que dei foram cobertos pela névoa. E as escoriações, consumidas pelo tempo.

Aliás, não há tempo. Há um estado amorfo. Não sinto a velhice chegar e nem perco minha juventude em cada olhar que cedo.

Digno-me de aguardar o ocaso.

Que nunca chega.

Não sei até quando terei tinta para lançar minhas cartas ao ar.

domingo, 11 de outubro de 2009

Palhaço II

Se num sonho viro palhaço,
se no outro me desfaço
e refaço o pensamento num assopro, num olhar.
Não importa se o que vem é reconhecimento ou esgar.
Deixo a semente plantar
Ser regada pela chuva que cai,
ou tonificada pelo brilho que emana do sol.
Vejo o tempo passar, pego minha trouxa e parto.
Florescer outro lugar.

sábado, 10 de outubro de 2009

Agradecimento

Queria deixar aqui meu agradecimento para o Caco Galhardo, por ter reproduzido uma tirinha minha no seu blog.
O cara é um dos melhores cartunistas aqui do Brasil e tal atitude me deixou bastante feliz!
Obrigado!

Velhice

Não vejo há um bom tempo. A palheta de cores se deixou invadir pelo preto.
Não escuto também nem o mais reles sonido de qualquer pássaro bravio.
Nunca mais toquei em sequer uma pétala de rosa.
E abandonei meus gostos, e os perfumes que não mais sinto.
Que esperar da vida a não ser a morte?
Ouço o relógio badalar a cada hora passada.
E o ser ossudo, cheio de mágoa, mais uma vez tarda.
Certamente não virá.
Assim como ninguém veio.
Não são todos os que conseguem escalar um devaneio.

Dueto

Yasmin Lara, dona do blog www.contrapto.blogspot.com, propós que nós fizessemos um "dueto" em poesia.
Gostei do resultado:

Lá no horizonte surge um sol
brilhante, como jóias raras.
Sua luz incessante clareia o dia.
perfeito, como uma sinfonia.
De longe vêm os pássaros com a cantoria,
suas notas alegres fazendo-me companhia,
Desvanecem qualquer monotonia.
Ah, caro sol, deixe-me em ti me acolher!
Completar o quebra-cabeça que é viver.
Se me abandonas assim, em sombras,
fico na corda bamba, perdido no escuro do meu ser.
Quero mais é essa claridade infinita!
Absoluta, como a sensação da música que finda.
Quero essa felicidade constante
Chega de sorrisos por instantes.
Ah, caro sol, quero brilhar!
Para sempre, até essa minha louca vida terminar!
Não quero esperar o inverno chegar...

Espero que venham mais. :D
E dá-lhe msn!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Juventude

Criança.
Sorrisos na lembrança,
que vem e vai.
Criança.
Balançando na bonança.
Avião que não tem rumo,
mas nem assim cai.

A roda gira.
Gigante, enquanto apequena-se o dia.
E vira noite.
Surge estrela.
E a cantiga, plena e doce, acalenta.
Deixe o sonho de nuvem voar à plenitude.
No último pó astral.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Caminhos

Sentiu no vento o seu destino.
E com um passo só, o seguiu.
Depois, claro, vieram mais passos.
Que a maré tratou de apagar.
Caminho seguido não há como retornar.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Tinta

Não tenho arte, obra, tese.
Não sigo o caminho dos outros.
Deixo o rastro dos tortos se apagar.
Uma mão de tinta já basta.
Um riso, um olhar.
E vou trabalhando o branco.
Enquanto o pranto fica da cor do nacar.
Olha a lhaneza a passar.
O tédio.
E a nostalgia.
Sentimentos que são humanos,
como o humano que sente que é sentimento.
Não importa se a luz não brilhar.
A escuridão é cor que se pode pintar.
E olha que a vida nem saiu do lugar.
Pois não findou o dia.
Monotonia que faz criar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Fly

Que o sossego venha e não tenha esmero.
Que o dia acabe, sem haver destempero.
Que a música toque para sempre, sem desafinar o canto dos pássaros invisíveis que só eu vejo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Vida II

Consuma o que solto no trago.
Trago a sabedoria de poucos.
Poucos são os que sobram.
Sobram restos de ontem.
Ontem que foi hoje outrora.
Outrora, lindo tempo que colhi uma flor.
Flor, que não possui mais olor.
Roda viva que nunca pára.

domingo, 4 de outubro de 2009

Esperança

Ser feliz é lavar a alma.
Encher o balão das idéias.
Flutuar por um mar enevoado,
sem medo do porvir.
Deixo-me perder por um sorriso.
Paixão que há de vir.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Baldio

Neste terreno,
só as bandeiras flamulam,
mesmo que não exista o porquê.

O tempo é o único ser soberano que atua,
transformando ossos em areia,
que se torna pedra vazia.

Corações enregelados.
Ausência de calor.

Ainda dizem os relatos dos mais corajosos, que viram por aqui uma cadeira de balanço sem dono...
Outros vêem corvos a grasnar, como se a todo momento evocassem a morte.
Mas o ser de ossos largos, macambúzio e soturno,
já levou a vida e o brilho desses grãos...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Musicalidade

"So far away from me,
so far i just can't see..."

- Eu não sei ler a placa...

"So far away..."

- Ou a música que toca...

"So far away from me..."

- Tão distante, que nem posso escutar ao certo...

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P.S. Escrita empós uma boa dose de Dire Straits.