sábado, 17 de março de 2018

Ouvi

Ouvi uma choradeira da janela.
De um povo que bate panela e faz dancinha.

Que se cala pelas outras corruptelas
e fecha os olhos para as mortes na favela.

A pátria sangra
Grita sem pudor.
E cada gota de suor que pinga, evapora.

Deve ser o inferno.

Enquanto isto os políticos mamam na teta gorda
e a igualdade fica cada vez mais desigual.

O braço forte da justiça, só nos pune.
E a liberdade é uma palavra distante.
Pelo menos para quem não tem renda.

Ô pátria alvejada.
Há buraco de bala até no meu coração.

De pauladas vou vivendo.
Salve! Salve-se quem puder.

Brasil, tu és um sonho de grandezas mil.
Mas o amor que vive em ti é utopia.
Os porcos vivem pulando na lama fria.
E no teu disforme céu, tristonho e ímpio
a imagem do negro escravizado resplandece.

Gigante somente pela crueza.
Aquela multidão cercando o corpo
Urubus, mas que tristeza.
E o noticiário, dizendo só o que lhes convém.

Brasil,
tua alma vive
mas respira por aparelhos.
E a tua falta de ação é constrangedora.

Nos salvem,
salvem.
Aqueçam o nosso peito.
Calem esta dor.

segunda-feira, 12 de março de 2018

Medo do medo

Eu tenho medo do medo.
Do escuro.
Do espaço.
Do quão próximo está o cadafalso.
Não sei se rio ou choro.
Ou me apavoro.
Com o silêncio das ruas.
Com o povo descalço e com fome.
Enquanto outros bolsos multiplicam o que não se vê.
O que não se crê.
O ímpeto some.
Não há voz.
Não há vez.
Sangue escorre.
Pinta o xadrez.
Pinta a cara.
Corta o coração.
E não há canção no mundo que salve da angústia de nada poder,
porque o poder nos consome.

terça-feira, 6 de março de 2018

Voei

Queria voar.
Um pouco do céu não é de todo mal.
Enlevo necessário.
Isso porque por vezes é indigesta a rotina.
Jaz a força, esperança amofina.
O vôo é dos pássaros, mas também é dos que se prestam a sonhar.

sábado, 3 de março de 2018

Paz

Paz.
Eu quero paz.
Um cais.
Brisa leve.
Poesia.
Água fria nos pés.
Fantasia.
Sonhos e enlevos.
Paz.
Nada mais.
Sossego e melodia.