quinta-feira, 30 de abril de 2009

Condenado

Deite no fogo, condenado.
Ouça o estalar da sua própria carne chamuscada.
Sinta dor, enquanto agoniza.
Pense em seu pensamento que o martiriza.
Engula o choro.
Aceite o fado.
Hoje não será amanhã porque é aqui que acaba.

Quem sabe um pouco de saudade.
Um sentimento por uma amizade.
Uma chuva forte,
torrencial, sem norte.

Fumaça.

Essa é a hora que você se mistura à desgraça, infinitamente.
É o momento que se entrelaça com o carbono expurgado do ser humano.

No fim, nem som, nem nada.
Apenas a sinfonia do vento que nunca acaba.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Palhaço

Eu sou palhaço de um circo sem noção.

Sou avião,
mas procuro permanecer no chão.

E que vá para o inferno toda essa rima.

Roleta Russa e um pouco de filosofia barata...

Humano. Não compreendo porque esta palavra tem uma conotação tão forte.

Se fazemos algo de ruim somos desumanos.

Meio ilógico, pois ao praticarmos uma conduta típica de nós, bípedes providos de inteligência e razão (?), não estamos sendo humanos?

Não são essas atitudes que nós podemos exercer?
Nós, exclusivamente.

Humano é a regra. É o ser. É o estar. Desumanos são os que caminham para o lado contrário da humanidade.

Mas o que vem a ser humanidade?

E por que necessariamente agir de modo humanitário é bom??
E por que simplesmente desumano é ruim?

O que delimita isso?

Afinal.

Qual o lado da justiça?

Não sei.

Roleta russa.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Paranóia IV

Matei mais um.

- Sonho?

Pensamento.

- Não sente remorso?

Sinto raiva por não ter feito isso antes.

- Tem certeza que a consciência o deixará ir adiante?

Nem imagino o que poderá acontecer no próximo minuto.

- Bestunto.

Quem é você mesmo?

- O pensamento que você matou.

domingo, 26 de abril de 2009

Criação

Dixt decidiu ir para o canto do escritor.
Chegando na recepção, disse:

- Busco um caminho de volta ao meu mundo poético...

O homem do balcão, demonstrando uma personalidade vulnerável e oscilante, apenas apontou o dedo para a sexta fila, onde Cabrita Azul e seus companheiros do além estavam sentados.

- Não é isso que eu procuro, afirmou Dixt, virando as costas e deixando o recanto.

Caminhando errante, passou a olhar as luzes da cidade.
Era noite, as ruas vazias e nenhuma criação em pauta.
Havia apenas um mendigo distraído, brunindo o branco de um vaso qualquer.

Onde estava a inspiração?
Aquele enlevo que o fazia levar consigo no bolso um caderno de esboços.
Parou de andar.
Deu de frente com um espelho inverso e se analisou.
Viu aspectos que nunca imaginara, ângulos que certamente ficariam obscuros até o infinito do caixão.

Decidiu ir para casa.
Procurar nos cacarecos da gaveta algo para se ouvir hoje. Aproveitar o momento de intensa reflexão.
Afinal, o dia não estava sendo normal mesmo.

Ao abrir o portão do prédio, deu de cara com a menina dos seus sonhos. Impressionante como ela ficava rubra toda vez que Dixt olhava-a nos olhos.
Tinha perdido mais uma tentativa de se declarar.

Mais um dia perdido na luta contra o tédio.

Ou quem sabe não.

Uma voz tonitruante, surgindo do nada, entravou um sermão:

- Pega a cadeira e senta. Chegou a hora da criação.
Fica buscando inventar, trazer aspectos que não são seus.
Enquanto o que tem para dizer está somente no coração.

- Esta caneta tem tinta da cor do sangue. Da luta diária e do suor que derramamos, ou da lágrima que deixamos cair.

- Pega a cadeira e senta.
- E cria.
- Cria o que há de lhe convir.

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p.s.1 - Procurei usar quase todos os blogs que me seguem. Espero que tenham gostado.
p.s.2 - Indico um filme que andei assistindo: "Vermelho como o céu". Vou procurar fazer essas indicações de alguns filmes pelo menos uma vez por semana.

sábado, 25 de abril de 2009

Orgulho

Meu orgulho saiu para jantar às 23:20. E de forma impressionante, não voltou.

Não sei se coadunou à triste sina dos sentimentos perdidos.
Provavelmente está vagando.
Pensando em como pensar.
Em como ser mais forte.
Independente das barreiras que existem ao norte.

Orgulho, ferino.
Orgulho ferido, mofino.
Quiçá um dia torne.
Para me surpreender num sonho.
Tal qual o mar bravio.
Cintilante.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Mundo

Eu criei este mundo.
Meu mundo.
Eu movi as montanhas,
no lugar pus oceano.
Eu abri a terra,
fiz brotar lava.
Retirei a fruta madura da árvore mais bela.
Admirei a beleza singela do meu céu enevoado.

Quando ameaço ficar prostrado,
me divirto nas memórias da infância que guardei em um rio qualquer,
em um lugar qualquer do qual não me lembro agora.

Às vezes caminho e me perco.
Ou me acho.
Ou muitas vezes acho o que nem busco.

Devo ser provavelmente um louco.
Quem sabe não.
Infelizmente ninguém responde a questão.

Só ouço o assobio do vento.
O piar solitário de um pássaro,
longínquo.

Esses mundos distantes que criamos.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Porque todos nós deveriamos voar

Aqui vou eu de novo.
Cair neste precipício exuberante.
As asas são novas.
A tentativa é velha.

Voar.

Quantas vezes conheci o chão e a dor.

Mais do que esperava...

Provei o doce sabor da terra que meu dente triturava.

Achei o caminho de volta.
Subi a escada da angústia e da lembrança.
Alcançando o topo, me enchi de esperança e aqui estou.

Renitente.
Combalido, porém não vencido.

Aqui vou eu de novo.
Para um combate.
Mais um desgaste de outros tantos.

Todo dia é uma luta.
Todo dia é um vôo.

Vou na labuta conseguir o que almejo

Quem cai e se entrega é só mais um.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Palavras?

Palavras.
Palavras e palavras.
Não é tão simples pôr algo no papel.
Uma responsabilidade para consigo.
Pois não existe uma fonte ou um rio.

Palavras.
Para que preciso?
Por que necessito delas?
O silêncio poderia bastar.
Nem que fosse por algum segundo.

Palavras na minha mente.
Nos cartazes da rua.
Na esquina.
No chão em que piso.

Avisos.
Ou simples perda de tempo?

Letras caindo do céu.
No fundo um arco-íris.
Uma nuvem branca.
E a luz do sol, plena.

Palavras amenas.
Confortam, apenas.

Aonde quero chegar?

domingo, 19 de abril de 2009

Silêncio

Cala-te.

- Silêncio -

Eu já disse para te calar.

- E o silêncio calou com uma fala: Tudo bem.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Gota

Caiu a gota no oceano.
Turvando o mundo de poucos.
Loucos.
Insensatos.
Somos nós humanos.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Aquarela

Que cor pinto esta tela branca?

Devo jogar o vermelho do sangue, da bravura.

O verde da esperança para ver se traz a sorte que preciso.

O azul, o mar azul que nunca mais visitei.

O anil do céu, que faz eu me perder em elucubração por algumas horas no dia.

O preto, o ocaso, o cansaço, o espasmo do semi-morto.

Prefiro mesmo o branco da candura.

Deixo a aquarela no chão.
Com três passos, abro a porta do quarto.
E a fecho.

Silêncio.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Penumbra

Os risos vem de algum lugar.
Está escuro.
Ponho as mãos a frente para evitar outro muro.

Nem sei que tipo de sensação é essa que me cerca.
Deve ser praxe para aqueles seres que só pecam.

E se eu não achar a luz, como é que fico?
Entregue à esse atro descabido,
insensato.

Fadar ao fado assim sozinho me assusta...
Enquanto escuto a morte tão errante,
mover sua foice astuta.
Rompante.

Devo sentar e contemplar o nada.
Ou o tudo que nada vejo.
Vislumbrar algum desejo
e materializá-lo.

Que tal abrir os olhos?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Fracasso

Sentiu o gosto do fracasso?
Acerbo demais eu sei.

Cuspa a terra que está presa em seus dentes.
Cuspa o sangue.
Limpe o rosto.

Planos mudam,
principalmente porque fazemos os sonhos como castelos de areia.

A insegurança e a falta de confiança nos tornam hirtos,
à medida que o relógio avança.

As estações passam,
o sol se levanta e adormece.
E você, permanece no pensamento de que nada o enobrece.

No entanto, a luz gerada chega para todos.
Buscar a sombra é só um jeito de fugir.
Sombra e água fresca.
A paz de papel que ninguém quer.

Provavelmente caminha na direção contrária,
ou seguindo passos, pisando nos buracos que já foram pisados.

Existem caminhos e caminhos para ser criados.
Deixe de ficar aguardando o vórtice do tempo o engolir.

Ria da cara do tempo.
Ria da cara da morte.
A vida toda ainda está aí.

domingo, 12 de abril de 2009

Gladiador

Abre a porta do espetáculo...
O público ovaciona.
Gladiador, é sua hora.
Caminhe firme, sem medo.

Lá de longe chega o seu adversário.
E a platéia cala.
Não há mais nada ao seu redor.
A vida em jogo lhe tira o sono.

O cotejo inicia.

Grite, enquanto o oponente pensa que o intimida.
Dê espaço,
se mostre frágil.

Veja que o humano se aproxima.
Confiante, embora vacilante pela força que acha que carrega.

Concentre-se.
Observe.
Ataque.

O morituro suplicante.
Sangue fervendo na terra quente.
Vitória,
labuta.

Aprendeu-se hoje que a corda dada não deve ser curta.

sábado, 11 de abril de 2009

O porquê

Levanta e luta.

- Por quê?

Simplesmente levante e lute.

- Me diga o porquê, simplesmente.

Não há porquê.

- Por quê?

Se não levantar, estarei obrigado a roubar sua vida.

Depois de um minuto, a criança nasceu...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Não partirei

Eu quero ficar aqui.
Nem que a chuva não cesse.

Eu quero ficar aqui.
Mesmo que o malfadado destino não seja esse.

Eu quero ficar aqui e sorrir,
pois não preciso mais olhar para trás.

Era tudo uma imensa ponte que já caiu.

Pago o preço que precise.
Ou já paguei em qualquer outro tempo e não percebi.

Quero ficar aqui.
Preso nesse silêncio ingênuo e doce.
Na esperança da flor que nasce na minha frente.

Acho que a chamarei de amor.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Bestunto

Idiotas somos nós humanos,
que acatamos perder tempo pensando em vez de agir.
Somos mestres em nos compungir e esperar o milagre divino.
Enquanto isso, capitalistas suinos nos retiram o pouco que nos resta.

A banda podre, que não presta, está para cair.
A árvore não dá frutos e tem folhas amarelas.

Pouco importa.
Não importa.
Não sei se importa.
Afinal, o que importa?

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Trovoada

Calaram os trovões.
As emoções ficaram.
Os padres rezaram missas para audiência nenhuma.
A cidade, a rua, o absorto vórtice do tempo.

Que miséria este trapo que carregamos.
Mentimos que amamos.
Amamos mentindo.
Recordações de momentos que não vivi.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

domingo, 5 de abril de 2009

Compreende?

Como posso ficar perdido se aqui é o mesmo lugar? Esquerda, direita, só levam a um caminho que é justamente onde estou. Apesar desta constatação, não me vejo lá. O lá que é aqui.

sábado, 4 de abril de 2009

Caçado

Ruge o leão.
Começa a caça.
Abruptamente acordo
e fujo.

De longe, ouço passos.
Mantendo essa constância, viro presa fácil.
De modo que agora nem pisco mais,
Só corro.

Enjaulo-me na tensão que transmito.
O corpo almeja ficar hirto.
Paro e penso.

É a floresta ou a cidade?
Cheia de bichos.
Bicho-homem.
Carniceiro.

Há silêncio
no meio das buzinas e sonidos de frenagem.
O vermelho do sinal
é o mesmo do sangue que espalha na esquina.

Um outro ser vencido.
E agora a chuva,
que lava e esconde a morte.

Qeu forma de entregar a vida.
A bala, inimiga, se aproxima,
enquanto eu assopro a água,
querendo criar bolas de sabão.

Quem sabe muito tarde,
tarde demais.
O meu destino é o chão,
impávido.

Um palco para um ser.

Dancei sozinho.
Só a lua me vigiava.
Realidade ou distração?

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Pouco se me dá...

http://www.youtube.com/watch?v=g5zCn54lXIg

Estava "andando" pelo youtube e recordei de um video que foi feito no tempo que o site Ars Littera existia.

Ars Littera era um projeto de novos escritores que, infelizmente, não progrediu.
De lá ficaram as experiências e a certeza de que o aprimoramento diário é a chave. Aspectos como beleza desaparecem. O conhecimento fica.

Vale a pena dar uma conferida no video.

Ressuscitar

Resolvi não olhar mais para trás.
As mágoas que passei me tornaram um ser irascível,
quase morto.
Mas estou vivo,
apesar de claudicante.

Usarei a terra que me amparou.
Construirei minha casa.
Não levantarei muros.

Sou partícula do universo.
Mesmo se quisesse, nunca poderia deixar de sê-lo.

Então, muros pra quê?
O objetivo é avançar.
Ad infinitum...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Revolução



Eu sou o grito mudo,
inconstante.
Não aguento este mundo oscilante.
Injustiças como pingos d'água numa chuva forte.

Onde está a atitude nobre?
A procurei ontem no mercado e estava em falta.
Quiça encontre uma amostra vencida.
Em qualquer lugar.

Coragem que não me falta.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Devorador

Caiu algum sentimento no chão.

Saio da toca farejando o intento.
Olho e caminho, sedento.
Não há um só passo, não há um respiro.
Este terreno vazio, sem vento.

Deixei de pensar, guio-me pelo instinto.
A sombra do animal cresce,
tão soturna e silenciosa como o pensamento.

Tem cheiro de morango esta gota que me atrai.
Amarga ou doce, talvez até desenxabida.

Devoro.
Quiçá seja angústia novamente,
com a experiência que tenho, acho provável.

Satisfeito,
devo esconder-me no escuro particular.
Aguardar algo novo.

Vês?

Vês?
A vela está apagando.
Não há vento.
Por isso os barcos não chegam do mar.