terça-feira, 30 de março de 2010

Leben

Me dê o papel em branco.
Deixe eu escrever com as lágrimas do meu pranto,
e com o sangue que jorra das minhas veias.
Eu pago por ser um sentimento dos mais puros.
Eu grito no escuro e ninguém ouve,
porque a ausência de luz também pode ser solidão,
amarga falta de paixão que corroi o humano são.

Eis o ácido,
eis o laço,
que flagela o próprio corpo.
É o som do chicote que corta a carne,
crua.

Quantas vidas,
oh,
quantas vidas...
Quantas chamas apagadas pelo vento.
Milhões de cinzas espalhando tormento
para os que admiram o céu azul.


segunda-feira, 29 de março de 2010

Duo


Mesmo com tanto
sofrimento no meu peito,
a voce confio meus sentimentos.
Raciocino, mesmo sem organizar meus pensamentos.
Céu que se abre novamente no vão dos meus sonhos
Impossível negar tal melhora...
O homem que me magoa, que machuca,
Vai embora, brinca de jogar amor fora.
Amigo surges tu, de braços abertos
Nada de mal me apavora
De todo sofrimento no meu peito,
raiva, angústia, tristeza,
Eis que surge um moço e refaz a correnteza!

Carolina Morais.


Resposta:


Correnteza,
traz-me a realeza dos sonhos.
E eu ponho à mesa os melhores pratos.
Olhe a clarividência do dia.
Olha a poesia que reverbera da potente luz solar.
E as nuvens são doces,
como eu imaginara.
E como continuo imaginando,
pois não cheguei às nuvens ainda.
Quem sabe num pulo,
ou num simples fechar de olhos.

Márcio Vandré.

sábado, 27 de março de 2010

Espera R

E a espera, sempre a esperar.
Se renegas a sorte ou o azar,
ninguém sabe.
Espera que o jogo não seja de morte,
não quer sentir sua cabeça pesar.
Eis a espera, com véu na janela,
aguardando a brisa chegar...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Droga

É assim que você retribui?
Com nenhuma palavra.
Tenho tido embates interessantes com o silêncio.
Vácuo absurdo.
Vão desnecessário.
No espelho, vejo os sentimentos invertidos.
A dor sorri,
claro,
de maneira nefasta.
Isso incomoda,
me afasta da porta da realidade.

Luz, só no candelabro.
Eu sou meu próprio ópio.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Apocalipse

O cristo caiu,
a casa partiu,
milhares de mundos,
pó do espaço,
descompasso,
voltas e voltas do relógio.

Escutem bem a profecia,
a água deixará de ser fria,
deixando o enregelo para os corações humanos,
ávidos pela conspurcação da alma,
secos pelo sangue que se acumula e escorre das latrinas,
há muito tempo sujas...

Do alto, ouvirão as momices,
garatujas ressabiadas passarão no céu,
que ficará escuro como se noite fosse.
Não haverá lua, nem românticos sentados aos bancos,
uivos de lobos velhos,
histórias não contadas até o fim.
Poesias infinitas, sem qualquer sentido.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Velhice

Ontem eu era belo. Hoje sou um pacóvio velho e iletrado. Carrego nas mãos a dependência que tanto evitei na juventude. Hordienamente, o fogo é brando e ao redor dele não costumo escutar mais nenhuma história. Deve ter sido um sonho, apenas. A floresta, os murmúrios, os medos. Tolices. Os dias agora são monocromáticos. Não consigo distinguir o azul do céu do azul do mar. Contavam-me antes que não eram os mesmos. Nunca percebi ao certo.

terça-feira, 23 de março de 2010

Pe nhas co

Miragem.
Aspirações de um lobo velho preso à imaginação.
Flechas flamejantes cruzam o céu.
Cupido.
Olhe cá para esse lugar da terra e não erre o alvo.
Peito aberto,
pulsação desgovernada.
Quero meu coração a salvo.
Quero as luzes da cidade acesas.
Quero a melhor comida à mesa.
Amanhãs clarividentes, como há tempos não se vê.
Aqui do penhasco vou pular e voar segurando a mão dela.
O resto vai ser obra do destino.

segunda-feira, 22 de março de 2010

romA

Minha gaita é desafinada.
O meu violão tem corda quebrada.
Minha flauta não solta nenhuma nota.
Ainda tenho, entretanto, a palavra
que não precisa ser cantada para dizer a cor do seu esplendor.
Algo vermelho escarlate como o amor,
ou quiçá dourado como a estrela que apontávamos.
Dia após dia tento pescá-la,
mas ela foge como os sonhos que não podem ser sonhados sozinhos.
Siga comigo no meu barco voador sem vela.
Fumaças na janela.
Imagens.
Corações e nenhuma miragem.
Amor.

domingo, 21 de março de 2010

Divagando sobre devaneios

Eu voltei ao pó.
Faço parte da atmosfera.
Livre, como um pássaro em debandada.
O sul, o norte, o leste ou oeste,
pouco importa.
A aquarela derrama as tintas.
Pinta o verde, o anil.
Amor de volta ao estágio febril.
Coração que palpita e aquece.
Tristeza desvanece.
Memórias de quando era são.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Engano

Deve ser bonito lá embaixo. Tudo parece reluzir como os diamantes que achei no outro dia. Se houver vida, as pessoas provavelmente não possuem problemas. Não é algo solitário como morar em cima de uma montanha. Trocaria, se pudesse. Entretanto, não tenho poderes contra a maldição que me impuseram. Tortura. Observar o mundo de cima e absorver as nuvens. Já ouvi o vento soprar e dizer que sou deus.

quarta-feira, 17 de março de 2010

War

Marcha soldado.
Marcha para um mundo cálido.
Não se preocupe com a fala
ou mesmo com o suor que cai.

Marcha soldado,
marcha sem sem almejar a paz.
Não veja os crânios que esmaga,
sei que isso lhe satisfaz.

Marcha soldado.
Marcha e pega a munição.
Metralhadoras atingem almas,
escasseando emoções.

Marcha soldado
Marcha para o túmulo.
Sem cornetas, nem choros.
Marcha para a escuridão.

terça-feira, 16 de março de 2010

Par ti r

vou indo, que aqui meus ventos não rompem a janela.
eu fico olhando atrás do vidro enquanto o tempo passa.
chegam dias e noites.
partem as madrugadas.
somem os sons de passos.
estou eu, aqui em meu claustro.
quem sabe um dia vislumbro um céu sem nuvem.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Morena

quero tocar sua pele.
apalpar as maças rosadas do seu rosto.
encarar os teus olhos de cleópatra.
e me perder no seu sorriso.
ah se o mar que é seu cabelo pudesse ser navegado sempre.
minha paixão morena.
minha menina.
minha pequena.

domingo, 14 de março de 2010

Colheita

sentimentos ao chão.
esparramados feitos grãos.
lírios crescem no cimento.
dia cinzento.
raios.
noite.
quarto escuro.

sábado, 13 de março de 2010

Tela


(Imagem de Ricelli Laplace)

E ela buscou o silêncio da noite.
O pó plúmbeo da madrugada.
A seda que a abrigava, esfriava o seu corpo,
diáfano como o de um morto.
A lua assistia, serena.
E também nada disse.
Preferiu calar e tentar ouvir os pensamentos, mesmo que esses viessem aos sussurros.
Os cabelos são ondas.
Ainda hoje procura um caís.

A mesma diferente.

Lá de longe sopram velas.
Amaina o vento, empós.
Recife de corais.
Instável luz solar.
Solidifica a alma, intermitente.
São risos inocentes que quero fazer voltar.
Ali no chão não crescem mais sementes de natureza polar...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Navio

Lá de longe sopram velas.
Amaina o vento, empós.
Recife de corais.
Instável luz solar.
Reverbera, intermitente e cria arco-íris.
Risos proliferam.
Ali no chão crescem sementes...

In memorian

Perda.
Sentimento irreparável.
Quebra-cabeça incompleto.
Música sem bardo. Sem bandolim.
Eis que a tristeza rodopia em preto e branco.
Carrossel de prantos.
Caminhos sem fim.

P.S. Pela perda que o Brasil teve no mundo dos quadrinhos hoje.
Pelas perdas diárias que temos.
Simplesmente, pelas perdas...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Notívago

Eu sou um punhado de fragmentos.
Tenho coração apunhalado sem ser vampiro.
Condenado ao torpor e à escuridão.
Não ver a luz do dia.
Trevas.
Relâmpagos.
Nenhum cordel a ser proferido.
O facão arrasta na terra.
Fragmentos espalham-se no ar.
Fogueira em brasa.
Fumaça que faz dispersar.
Alguém sabe uma canção de ninar?

quarta-feira, 10 de março de 2010

Quadro

Se no teu olhar há o infinito?
Aposto que sim!
Nas curvas simétricas do teu rosto, passeio.
Imagino o teu respirar tranquilo.
Devo tirar uns daguerreótipos.
Aclarar os quadros que não foram pintados.
Desvanecer escuridões,
esperando o fim da madrugada.

terça-feira, 9 de março de 2010

Acerbo

Estão as cartas na mesa.
As mentiras.
As balbúrdias.
O uísque derramado.
A lascívia escorrendo para o chão.
No cinzeiro o cigarro ainda esfumaça o ambiente.
Vendo idéias.
Ou as jogo pela janela.
Meus pés estão descalços.
O chão está frio.
Meu coração também.

segunda-feira, 8 de março de 2010

EmpedernIR

Que coração empedernido o seu.
Não responde às palavras que profiro.
Seria eu ladrão se pudesse.
A maré não banha essas praias.
Vivo na espera dos novos amanhãs.

Halley

Eu.
Cometa que passa.
Vida efêmera.
Vapor de fumaça.
Calor intenso.
Silêncio.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Lunar

Ontem estive observando a lua antes de dormir e conversei com ela. Disse palavras que não me recordo. Vi o bailar das nuvens para evitar o brilho lunar. Quase um cotejo. De toda forma, me deixou anestesiado. Queria ter aquela sensação para sempre no peito.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Você

Queria eu escrever belezas,
mas sem você aqui não há possibilidade.
Olho para o mar, para as estrelas,
tudo opaco.
Mesmo o pôr-do-sol não tem o tom alaranjado de outrora.
Cansei de pedir esmolas de abraços que nada se comparam ao seu.
Finquei a espada no chão de pedra.
Ao lado sentei.
Sonhei que é plausível ainda uma dança.
Encho-me de esperança quando vejo o amanhecer.

quarta-feira, 3 de março de 2010

sonhAR

Ar que respiro.
Rede que embala os sonhos.
Flechas que disparo a esmo.
Do alto da montanha vejo o mundo.
As luzes da cidade.
Cada luz, uma vida.
Cada vida uma ferida a cicatrizar.
Deixo a onda do mar desmoronar os castelos que construi.
Devo acordar, porque quem vive só de sonhar não consegue de fato voar.

ImaginAR

Sempre pensei que guardava o infinito nas mãos. Outrora, tive dúvida e as abri esperando algo. Não havia nada. Naquela hora passou uma cigana já bem velha e ranzinza, que disse que eu precisava ter imaginação. Eu falei que tinha. Ela continuou andando a passos lentos até desaparecer por completo na escuridão.
Desde então venho treinando. Abro as mãos e saem pássaros, vagalumes. Já há uma floresta, meu recanto, em minha volta. Acho que já vou puxar a nuvem para me aboletar. Não, não vou fazer chover.

segunda-feira, 1 de março de 2010

ObservAR

A cadeira de balanço e o vento.
A casa solitária e o silêncio.
Nada novo no alvorecer.
É um perigo ceder à rotina.
Parece-me mais uma sina esse desvanecer.