domingo, 31 de maio de 2009

Desventuras

- Que acorde tentará agora?

Uma nota promissória...

- Haha. Que piada...

Não é piada. Me pague ou leve um tiro.

- Eu posso pelo menos suspirar e reclamar da vida?

Fique a vontade, mas não tenho o dia todo!

- Você sabe que eu não ando nem com carteira no bolso.

Por isso trouxe o revólver.

- Que é isso, companheiro? Pense bem! Seja bondoso como no tempo que me emprestou o dinheiro.

Já faz dois anos...

- E eu pensei que tinha sido ontem.

sábado, 30 de maio de 2009

Perfume

Eu sou frasco novo com perfume velho.
Levemente forte.
Levemente fraco.
Um consenso inexato de olores.
Ora permaneço ácido demais e inutilizável.
Ora sou doce como o mel mais caro.
Quero espalhar no ar
e me converter em vapor.
Quero distribuir fragrâncias inefáveis.
Vaguear por espaços insondáveis
e encontrar o amor.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Extremo

Suspensa.
A poeira do espaço.
O pó de estrela.
Disfarço.
Meu copo cheio é de soda caústica que bebo todo dia.
Alguma alegria.
Nuvem fria que passou.
Esta carregada de lamúria do povo que chorou.
Do choro veio o rio.
Do rio veio a enchente.
Da enchente veio gente em desespero.
Tratem-nos com esmero.
Somos os donos do mundo,
só não sabemos...
Esperamos milagres profundos.
O céu responde com um trovão vagabundo.
Nauseabundos, os homens inermes caminham para o cadafalso.
O precipício queima os fogos do inferno.
Os corpos vaporizam como fumaça, que some para os olhos desavisados.
Eu não guio a lança que conduzo.
Ataco os corações que nego, sem querer.
Parto e nunca volto ao mesmo lugar.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Atroz

Eu vi as balas serem disparadas contra o morto.
Eu vi a correria do povo.
O murmurinho e a jocosidade dos outros que não se importam.
Apontem para o corpo!
Sigam o rastro do sangue!
Passem a língua no asfalto!
Porcos infames!
Só buscam estampar uma foto no jornal...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O reino IV - O recomeço

O crepúsculo invadiu a tarde.
A luz dourada banhou a terra verde.
A multidão havia escoado junto com a água da chuva.
No chão a máscara ensopada.

Os passos dados pelo executor arrependido restam empedernidos no chão.
O pensamento que fustiga sua mente correlaciona às pessoas mortas.
E realmente em cada pegada brota uma mão agonizante.

O reino dos mortos tem a porta perto do céu - pensa o homem que quase não pensa.
E continua andando.
Seu objetivo é o trono.
O carpete vermelho lhe espera.

Faz frio.
Muito frio.
O mármore da escada também está enregelado.

No topo, onde o rei exânime jaz,
o homem pega o cetro e a coroa
e discursa para uma platéia inexistente,
com a verborragia que não lhe é peculiar

- Eu corrompo os sonhos de quem viver, por causa de uma lei que não vi ninguém escrever. A partir de hoje, o amanhã será mudado. Esquecerei todo o passado. E quem se opor, que não se use do silêncio.

O anoitecer chega junto com o ponto final da sentença.
A sinfonia dos grilos inicia. O céu começa a ser pintado com algumas estrelas.
Não se ouve aplausos nem críticas.
Há apenas o brilho no olhar de quem parece ter uma grande conquista.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Und basta!

Sentado, faço nota do espelho d'água que se forma com a chuva.
Eu não vejo meu reflexo.
Aliás, nada aparece no espelho opaco.
O vazio de dentro observa o tudo.
O branco insensato aperta o interruptor.
No escuro a imaginação é ferina.
E o medo transforma a penumbra.



Já basta!


Quem se levanta para acender a luz?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O norte

- Para onde vai?

- Para o norte.

- Por que acha que é nessa direção?

- Estou seguindo a bússola.

- Já pensou se ela estiver errada?

- Já pensou se você estiver errado?

E o inquisitor se calou.
Ficando para trás a cada passo dado pelo viajante.

domingo, 24 de maio de 2009

O reino III - O fim

- Não tem pena, carrasco?
- Cortará mesmo a cabeça desse homem fraco para depois dormir com cheiro de sangue nas mãos?
- Eu sei que privilegia o silêncio e prefere obedecer do que pensar, mas eis que eu, sua consciência, resolvi chegar para condenar este rumo que tomou.

- Todo caminho tem volta. Todo machado que vai retorna. Provavelmente menos afiado, justamente por ter cortado alguma coisa.
- Não precisa condenar nem julgar ninguém! Não se sinta prepotente só porque é aclamado. Com a máscara que carrega ninguém o reconhece.
- Sua identidade é a falta de identidade. Não existe referência e nem nome. Uma incógnita infame. Depois da morte sua fama acaba. E sem máscara, o ostracismo ataca.
- É o momento que usa suas horas para se questionar, se tornando mais bestunto e cego pelos momentos de glória instantânea...

Mata! - Grita a multidão.

- Vê, para eles você faz parte da diversão. É só um elemento do espetáculo. Não o todo...

Desencorajado, o carrasco verte os olhos em lágrimas e arranca a fantasia. A platéia emudece, o espelho se quebra. O rei acomodado em seu trono nem pisca.

Depois do silêncio, um grito.
O sangue que corre é real e azul, absoluto.
Busca o pútrido esgoto.
Onde habitam os ratos que cometem calúnias.

No meio da poça da água da chuva que cai,
urra um homem,
mas ninguém o entende.

É um homem ou um animal?

sábado, 23 de maio de 2009

Agônico

Eu, que ando sempre contra a parede, não saio do lugar.
A força faz brotar o sangue, que transborda do meu cenho e inunda a terra vazia e seca.
Eu não ligo para o que me cerca.
Apenas fechos os olhos e deixo-me guiar.
As costas aguentam os chicotes que cortam a carne, num bailar lúgubre quase imperceptível pelos seres que habitam esse pedaço de chão.

Vejam as caveiras brotarem com o estalar dos ossos outrora hirtos.
Vejam e aplaudam o grito da águia-mortalha.

Outros cairão e não levantarão.
Vigilante, o arqueiro cego, portador da flecha inconsciente, mira sem analisar o coração que no corpo bate.

Eu não movi este muro!
Só angariei uma modorra, que a cada dia me corroi um pouco da esperança contida na alma.

Eu acho mesmo que este local será meu túmulo,
que a parede será minha lápide.
E que o meu epitáfio, escrito com saliva, trará a máxima desconhecida que nenhum olho poderá enxergar.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Loucura

O ponto de ônibus quase vazio. Duas pessoas esperam para seguirem os seus destinos. O sol já ameaça encerrar o dia para dar lugar à noite. Um fala:

- Como demoram esses troços, não é?

- Sim, responde a outra pessoa.

O primeiro faz menção de olhar o relógio. E apontando para o horizonte, diz:

- Não temos mais tempo para ver o pôr-do-sol.

- Eu nunca tive, responde a segunda pessoa.

Isso leva a um minuto de silêncio. Talvez dois. Três no máximo.
É o tempo que o ônibus vem. A primeira pessoa avança um passo, com ar satisfeito por poder finalmente tomar o rumo de casa.
Uma curiosidade o assalta e o faz tornar o cenho para trás. Fato que gera certos questionamentos, pois a segunda pessoa, que tivera uma conversa rápida, não estava mais lá.

Decerto que passou a viagem pensativo, evocando a insanidade que julgara ter desaparecido.
Enquanto o transporte se perdia num devaneio, tragado pela névoa soturna do inconsciente.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O reino II

Esta coroa não é minha!!

- É sua sim!

Não, não é!

- Se renegar, seu povo amanhã estará na lama.

Eles já estão lá. Se aceitar, quem vai ficar na lama amanhã sou eu.

- A que lama se refere?

Da inconsequência, ora mais! Não quero me juntar aos porcos.

- Porcos?

Olhe pela janela!

- Que janela?

Como eu desconfiava, o mal já chegou nesta sala.

Parênteses

A vírgula, a reticência ou o ponto final dependem exclusivamente do enlevo que se submete o poeta.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Presente passado

Porque o humor ácido me bate a porta e corroi o trinco.
Porque este vinho que tu bebes não é tinto.
Eu aponto o dedo na tua cara e rio sorrisos intermináveis e febris.
A cura do louco é um pouco da sanidade que lhe falta.
A cura que mata e amarga a ausência do nada.
Eu não sinto dor.
E o calor desmitifica a cor de qualquer objeto.
O mundo preto e branco, tão lúgubre quanto a canção que roda no vinil.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Infinito

Esta diante da porta do universo.
Abra-a e não retornará.
Você mesmo que falou que o passado não importava.
Por que pondera agora?

Ecos

Eu sou o eco que se perde, mas não se cala.
Sem rumo, vagueio pelos corredores do infinito
e escuto o lamúrio renitente que me pertence.

Eu viro e não enxergo.
Eu grito e não nego.
Quiçá outro dia.





Amanhã?

domingo, 17 de maio de 2009

Vicissitudes

E se eu me consertar?
O concerto vai voltar a retumbar no seu coração?
E se for sim? E se for não?
Não quero mais silêncio.
Chega de ventania e nenhuma canção.
Quero pular e não encostar mais no chão.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Cartas sem destinatário

Clarice,

Espero, primeiramente, que nunca leia este expurgo de sentimentos. Busco questionar apenas o porquê de vermos só o que conseguimos ver. Nos limitamos de tal modo que acabamos por fechar a porta para qualquer embevecimento ou fantasia a ser experimentada novamente.

Hoje a vi no meio da multidão, mas muito provavelmente você não me viu. De repente senti um vazio. Só o sol, a sombra e o deserto. Uma mágoa, porque aquele momento poderia não significar nada para você. Tal fato me pôs em pensamento profundo.

Fiquei a imaginar que imagem seus olhos traziam. Ou se estaria com os olhos perdidos que nem os meus. Queria saber por qual motivo fiquei parecendo ser só mais um no meio de tantos rostos indecifráveis.
Queria saber o motivo de eu ter virado a paisagem, o quadro pintado e hirto na parede. Guardado na galeria mais antiga e distante.

O rosto não chora, só treme. E o ar de dúvida e repúdio, predomina.

Eu só queria dizer que não sei. O muro, a prisão, o cárcere maldito que se submete o coração. A luz vinda da janela que revela só coisas mortas e a terra ressequida.

B.
_____
Clarice chegou em casa pensativa. Procurou logo seu quarto e acabou por achar o diário em cima da cama. Pôs a bolsa no chão, pegou uma caneta que estava na mesa de estudos e tratou de escrever o que lhe vinha a mente:

Querido diário,

Hoje, na praça, eu o vi. Apresentei um olhar furtivo para me fazer de forte.
Por um momento pensei que eu era o foco da sua visão, mas me enganei. Continuei andando e o corpo amado lá atrás pareceu imóvel, como se não vislumbrasse nada.


A visão. A bela visão do amor. Pretensão. Almejar o futuro que o passado não permitiu.

Será possível tal sorte?

Clarice, então, fechou a luz do dia e se deitou pensando que era noite.
Quem sabe um sonho que a levasse a uma realidade distante, mas desejada.

Quem sabe?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Uma parte de mim

Uma parte de mim é metade.
Metade da verdade que me cerca.
E escancara a porta.

Outra parte de mim é metade da metade que me falta.
E que por algum momento me completa.

Seja na badalada do relógio.
Ou no movimento sombrio e silencioso de um pêndulo.
Uma parte de mim, desconecta.
Outra observa.

Uma parte do todo que o mundo é.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Um pouco de ódio...

Estrelas caem por todas as partes. Eu os avisei. Chamaram-me de louco e inconsequente. Agora gargalho e os chamo de porcos, enquanto o mundo é condenado junto com os que me condenaram.

É um espetáculo bonito. Provavelmente a coisa mais sublime que já vi na vida. E o pior é que nem tenho um papel para descrever tamanha resplandecência que acredito ter eu como o único observador. Os demais estão correndo sem rumo, mas uma hora eu sei que eles cansam porque são mortais e humanos.

Eu devo ser Deus pela calma que ostento. Só os deuses imperam diante do caos. Que a terra pegue fogo. Que os gritos dos moribundos deixem os outros surdos. E a mim, nada. Nada me abaterá mais!

Vou pôr o meu dedo em riste e rir da cara do pastor, do padeiro, das pessoas que me crucificaram na rua. Rirei no momento que suas vidas serão entregues ao vazio. Eu reinarei sobre os mortos da terra. Esse era o meu destino, enfim.

E esta terra negra os enterrará. Os silenciará para sempre! Não há sol ou lua que sustente um milagre. A salvação será ordenada por mim. Somente o meu desejo governa. Aliás, este vinho está muito bom e a coroa coube na minha cabeça. A visão da destruição é a melhor possível.

Olhe o homem em chamas. Outro se arrastando no chão, como se quisesse fugir do destino. Mas os abutres estão à solta e não irá se safar ninguém. Acho que posso considerar canibalismo. Abutre comendo abutre. E o imenso cheiro de carniça. Sangue fervendo tem um odor forte.

Nem que subam as labaredas, o único pedaço de terra que restará é o meu. Pelo menos até aquela última estrela cair.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O reino

Pega a cadeira e senta. Escuta a história que tenho para contar.
É sobre um reino desonesto e febril, que se perde nas noites sem lua e não se acha. Alguns falam que não falam, outros simplesmente se calam, e o rei tirano, com imensa fúria, comete diversos atos de loucura em nome do que ele nem lembra mais.
Os olhos são silenciados por um assobio, a respiração é um martírio devido ao ar conspurcado e carregado de penúria.

Mas que reino é esse, que até as nuvens mais escuras se afastam?
Reino que possui labirintos nefastos e incongruentes.
Afinal, qual o labirinto não o é?

Eis que surge um homem taciturno que se arma com uma faca, e trama um estratagema.
Derrubar o rei e o seu séquito, sem pena.
Limpar as ruas da cidade de forma plena.

O ato de um inspira multidão.
E o cotejo inicia como um grande furacão.

Deixem os ratos no esgoto.
O sangue negro que empesta as ruas escorre em direção aos bueiros.
Corpos caem e não se levantam.
Lanças vão e não voltam.
Espadas cortam.

E a poeira baixa.
O ulular bravio de um fantasma.
Levantam-se inúmeras almas penadas.
A terra cede.
Condenando ao lugar mais fundo esta corja inteira.
Seja herói ou vilão.
A cidade era a maldição.

domingo, 10 de maio de 2009

Filosofia?

- Sabe, irmão...
- Hum...
- Essa lua não existe.
- E o que é isso que vemos?
- Alguma miragem, muito provavelmente.
- Então o que é real?
- Acredito que praticamente nada.
- Nada?
- Nada! O que está além da palma da minha mão simplesmente não existe.
- E essa conversa?
- Alguma elucubração ou um cotejo ensimesmado.
- Isso é loucura, cara! Deve procurar uma folga no trabalho.
- Não adianta sugerir isso. Não há emprego. Não há vida.
- E o que é essa maldita conversa?!
- Sabe, irmão, eu já tive pensamentos mais calmos. Nunca tão contestadores como você.
- Que surto é esse?
- Olhe seu braço.
- Sim, está aqui.
- Agora pisque e olhe novamente.
- Ainda está aqui! Nunca vi conversa mais descabida!

O homem furioso oblitera enquanto vai caminhando para deixar o recinto.
A sala desvanece.
Só o branco do vazio.
Uma gargalhada. O filósofo regozija e puxa um trago do seu charuto.


- Venci de novo.

sábado, 9 de maio de 2009

Estrela

Estrela.
Por que falhou no meu pedido?

Eu sei que fui fraco e confiante demais.
Ousei pisar aonde meu passo não alcançava.
E caí.

Senti a terra.
O impacto foi bruto.
Sinto dor,
mas não me considero vencido,
nem mudo.

A voz nascerá de novo.
Ecoará em outros cantões.
E você, estrela ferina,
que iluminou minha queda,
reluzirá o ouro da minha conquista!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Adultice

- Mãe, a água é como o sonho?

- Por que está perguntando isso?

- Porque ela toma a forma que queremos.

- Mas não vê que o sonho é abstrato demais?

- O que é abstrato?

- Algo intangível.

- Por que você complicou uma pergunta simples?

- Quando eu era da sua idade, fiz a mesma pergunta.

- Sim?

- E da mesma maneira não conseguiram me responder.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Vórtice Silencioso

Eu sou falível.
Não controlo o fogo ou a água.

Era apenas um sonho?

Eu sou da terra, mas ela não é minha.
Não me perco mais no assopro de um vento.

Que sensação é essa que me abomina e quebra a frágil camada que me rodeava.

É o chão partindo.
E o chamado, uníssono.

É o voraz vórtice silencioso.

Não há nada para se olhar pra trás.

E agora, João?

E agora, João?
Esperançoso?
Corajoso?
Desgovernado?
Ansioso?

Sei que não está vencido.

Combate com ardor e expressa a fúria com um grito.
Seja a sombra do jamais,
guiada pelo infinito.

Decida a luta,
antes que o desejo brote com o sangue.
Sangue que pode ser da glória e pode ser da queda.
Sua cara não nega o medo que carrega.

Agora tem destino num instante.
Um segundo que se transforma em um minuto.
E na soma inconstante,
perde-se no pensamento poluto.

A vida é uma batalha, João.
Nem sempre amena,
mas pode ser dominada até quando a alma se apequena.

A derrota é o fim,
para quem se entrega.

O resistir é importante.
Pois qualquer movimento lancinante
pode levar à glória instantânea.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sonhei um sonho

Quem consegue tocar os sonhos e moldá-los?
Relembrar os tempos de criança, agora que o tempo é outro.

Será tão fácil assim?
Escolher a forma e seguir.
Deixar voar, feito pássaro saindo da gaiola.

E se o sonho não voltar?

Ele não deveria ser seu.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Deserto

Abra a mão e solte a areia.
Não prenderá o deserto dessa maneira.
Você que está preso nele.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sem Sentido III

Parto o mundo e o distribuo.

Dou os conflitos ao primeiro que surgir.

Aos demais um sonoro silêncio.

Seguido de uma ovação sem limite.

Acabo de inventar a paz.

Mas não por muito tempo.

domingo, 3 de maio de 2009

Sem sentido II

Sem sentido.
Este gotejar do céu.

Sem sentido.
Esta planta crescer e desobedecer a gravidade.

Eu contesto o incontestável.
E pronto.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Alquimista

Eu manejo fórmulas e frascos.
Crio cores e sons fantásticos.
Rio sabores inefáveis.

Às vezes fico a pensar e me distraio.
Explodo um quarto.
Mato um rato,
tal como se fosse um final de um ato, que platéia nenhuma presencia.

Qual será a pretensão de amanhã?

Acho que criarei algumas moedas de ouro...

...de tolo.

E esperarei a ambiçao humana na janela,
como tigre na tocaia.

Para assim trovejar um esgar ao esperado e renitente ato da cobiça.

A poça é a cama.
É a lama.
É o berço.

É o desejo que nos afoga e mata.
E silencia.

Eu não posso reviver ninguém.