quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Prece

o ano termina.
uma nova semente germina,
carregada de esperança.
eu quero que venha a bonança,
ventos fortes para embalar os sonhos
e empurrar o barco.
quero o céu cheio de estrelas, sem nuvem alguma para perturbar a minha visão.
quero corações apaixonados,
beijos molhados,
ternura em cada olhar.
quero almas fraternas, longe das esperas de um amanhã que custa a chegar.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

RenovAR

Sorrisos falsos?
- Ao lixo.
Mentiras deslavadas?
- Ao lixo.
Vaidades descabidas?
- Ao lixo.
Sombras?
- À luz!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Farol

Farol.
Mira tua luz no oceano.
Enxerga a embarcação que o vento vem soprando.
Com o teu brilho, faz amanhecer.

domingo, 27 de dezembro de 2009

sábado, 26 de dezembro de 2009

Inferno

A sua palidez é tênue.
- Obrigado.
Seus olhos apontam para o vazio.
- Obrigado.
Seu sorrir não existe.
- Eu o perdi há algum tempo.
Abram as portas, deixe o moço entrar...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Considerações

Infância, doce infância.
Não parta.
Não parta meu coração.
A tive por muito tempo, mas só agora vim ter noção,
de que com você o sorrir era sincero.
Vem, ainda a espero no próximo amanhecer.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

Jogo as palavras em alguma máquina.
Misturo sentimentos.
Dores fortes, alegrias nada amenas.
Vivências.
De lá, extraio a vida na sua forma mais plena.
Às vezes opaca, às vezes reluzente demais.
Realejos tocam.
Sobem estrelas ao céu, que se pinta de negro enquanto o sol desce.
Amanhã será mais um dia.
E só.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Desamor(es)

Papéis, cartas. Não quero mais.
Fotos, queimo na lareira da falta de consciência.
Vejo sentimentos atirados pela janela,
encontrando o chão imundo, consumido pelos ratos moribundos.
Eu quero chuva para lavar as vielas.
Desentupir coronárias, para um singelo órgão tomar o seu vigor.
Bater, sem nenhum desamor, irrigando os terrenos áridos de candor.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Diálogo

- Eu já posso partir?
Claro, respondeu o vento.
- Mas eu não sei voar.
Eu também não, mas de forma surpreendente consigo fazer isso aos outros...
- Ok. Vou fechar os olhos.
Por favor.

Então o tempo alçou vôo, livremente, chegando tão longe no horizonte, que facilmente poderia se confundir com uma gaivota.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Verdade

A criança não pode morrer.
A criança não pode sofrer.
A criação se preserva com a manutenção da infância dentro do coração.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Amarelo

Eu rio dos sorrisos falsos.
Aponto para os quadros tortos que não foram pintados por Picasso.
Pego folhas do bloco de papel, escrevo, amasso.
Lixeira atulhada de lixo.
Palavras sem nexo.
Canetas com complexo, por carregar em vez de tinta, o sangue do escritor.
Eis que o ponto final nunca chega.
Parágrafos intermináveis.
Nova linha.
Suspiro.
Cansaço.
Hora de ceder a cabeça para o mundo dos sonhos.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Disparada

Abstraio,
mas não traio a confiança dos meus passos.
Rumo ao norte, sempre.
Esquinas existirão, eu sei.
Assim como pedras,
que postas à mão, servem de armas.
Eu sou a bala disparada.
Vida breve.
Vida.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

(in)SENSATEZ

Eu preciso viver na loucura.
Beber da água impura que os fracos renegam.
Quero andar no liame da existência e do ocaso,
sem ligar para a ventania.
Respirar extravagância em tom de sinfonia.
Entrar na dança, desconexo.
Carregar o vazio no pensamento, sem dar azo para qualquer lamento.

Loucura.
Uma hora tu me matas. Outra hora, tu me curas.

- Amém.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Branco

Eu estou no mesmo.
De encontro para o quadro branco, não vislumbro nada.
Brancas são as idéias, mas elas não trazem paz alguma.
Quem dera pela janela aberta corressem certas ventanias...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Mercado

Esperanças?
- Já foram vendidas.
Alegrias?
- Só temos na medida!
Me dê então um pedaço candura.
- Perdeu-se perto da amargura.
Que tortura!
- Isso temos aos montes.
Não obrigado!
- Disponha...

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Fini

Aonde foram as percepções?
- Eu não sei dizer.
Só vejo corpos lívidos.
- Eu nem isso.
Alguns sentimentos eu vejo agonizando no chão.
- Provavelmente é o fim...
Devo fugir?
- Não há chance.
Vou correr.
- Boa sorte. Apague a luz. Quero me acostumar com a escuridão antes dela chegar.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Bravo?

- Save me!

From where?

- Eu não sei falar inglês. Só li o cartaz que esse mundo está segurando...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Contador de histórias

Pega a cadeira e senta.
Escreve a história com os passos que não deixaram rastros.
Não guarda na memória, pois essa apaga com o ocaso.
Descreve o zênite da montanha.
O escopo atingido pela flecha.
A palavra, que não pode ser calada,
mesmo que esteja somente deitada no silêncio desses versos...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Vitória

Vitória, companheiro. Temos vitória. Champanhes abrindo, belas senhoras. Músicas tocando, pessoas bailando em algum infinito. Abra o sorriso, brinde a glória. Olhe para a espada que lhe concedeu a bendita conquista. Guarde-a, ainda será muito usada, até que seja fincada em sua lápide.
- Isso não espero tão cedo!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Espartano

Eu sou guerreiro.
Não temo a morte.
Guio minha espada sem precisar da sorte.
Na minha pele, cicatrizes.
Cores de várias matizes.
Dentes rangendo.
Portas se abrindo.
Os leões e eu.
É batalha.
A glória.
Espero nada menos que a vitória.
A derrota, deixo para os desavisados.
Minha lâmina reflete a luz solar.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Luz

Eu sei que consigo atravessar a luz,
sair dessa caverna.
Olhar o amanhecer que se aproxima.
Não quero mais fragmentos de esperanças,
quero esperanças inteiras.
Poder voar num fechar de olhos!
Fugir dos absurdos.
Sonhar que a vida é um sonho bom.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Louco

Não consigo criar algo absolutamente novo.
Acabo caindo na rotina,
nas mesmas horas que a ampulheta despeja na sua terra interminável.
Eu, como o tempo, repito a cada dia passado.
Almadiçoado, quem sabe.
Mas não entregue.
Vocifero palavras ao vento,
para em nenhum momento eu negar a minha existência a mim mesmo.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Devaneio do alto de uma montanha

Não há nada de sublime aqui no alto dessa montanha, me enganaram.
Não vejo revoar de qualquer ave,
nem ouço seus cantos ao amanhecer.
Só vejo nuvens passando,
sempre,
sem rumo.
Às vezes, seguem para o norte.
Às vezes se desnorteiam e se perdem num piscar.
Devo estar sonhando.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Acaso

Dê-me um tiro no peito.
- Nunca!
Eu já passo dos 80. Tenha piedade!
- Você possui mais vigor que eu!
Eu nem lembro de ontem. Minha memória é falha. Respeite meu momento de consciência agora. Amanhã, já não a devo ter mais.
- Onde está a arma?
No armário.
- Ok. Aguarde.

...

- Pronto, faça você!
O quê?
- Nada. Estava mostrando sua arma de guerra.
Eu não me recordo, cupincha. Ouve o sinal?
- Sim.
Acho que meu trem vai partir.
- Acredito que sim.
Eu já devo ir. Vou me levantar sem me despedir.
- Sentirei saudades, avô.


E como um pássaro, ergueu os braços e vôo pela janela...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Sacrilégio

Vi um homem deitado no chão.
- Que coisa, não?
Ele tinha uma tatuagem na perna.
- Devia ser marginal.
O cabelo era branco.
- Pobre velho bêbado.
Senti que passava perto de deus.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ermitão

Ele não fala a algum tempo, virou louco. Dizem que mora em cima da montanha. Um casebre velho, sem telhado. Sua barba cresceu tanto que é usada como tapete. Seus olhos são fundos, como algum poço olvidado, sem água.
Não há choro, nem martírio.
O mundo em que vive é de delírios,
inconcebíveis.
Onde nenhuma nau há de chegar.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

...

Por que não pára de atirar? A guerra terminou.
- Mentira! Ainda vejo inimigos ao fundo.
Ok, fique só.
- É melhor se abaixar, soldado. Eles têm metralhadoras pesadas.
Ok, me abaixarei assim que chegar na minha cama para dormir o sono perdido.
- Assim, o sono perdido que encontrará é a morte. E desta não acorda.
Cale a boca, animal!
- E quem não é?
Animal?
- Sim.
Irracional, isso que você é!
- Abaixe-se!
Vou embora.
- Olha a bala!

...

- Triste fim...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cupido

Deixa eu rir.
Juntar corações com a mira certeira.
Florescer as mais belas rosas em terrenos mortos,
onde os tortos julgaram não crescer nenhum grão...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Bem-te-vi III




Conhecem meu canto.
Nunca me entrego ao pranto.
Nem cedo à modorra nos dias que não posso vislumbrar um raio de sol.
Meu peito é puro. Imponente.
Meu olhar, sempre rente.
Corto o anil alvorecendo manhãs.

sábado, 28 de novembro de 2009

Maskenball

Ria.
Pose para a foto.
Finja ser algo que não é.
Vamos, dance imaginando que há música.
Perca-se na gorda petulância que expele pruridos de outras orgias.
Caixão.
Aneis de ouro fora dos dedos da opulência.
A soberba morre?

- Se esconde...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A morte...

Que vê na lucarna?
- Minha morte.
Vá jogar uma moeda, vê se tem melhor sorte.
- Estou estudando as formas de escapar dela.
Então, o que pôde compreender?
- É inevitável.
Bravo!
- E ela não veste manto algum. Nem há foice.
É só uma invencionice.
- É, vai ver a morte não existe.
É a falta de vida, cupincha, é a falta de vida.
- Então basta eu acreditar.
Sim!
- Vou pular essa janela e voar ao invés de cair e morrer.
Voe como Ícaro!
- Voarei!

Pulando a janela rememorou o que via pela lucarna. No fim, não havia se livrado dela. No máximo tinha batido um papo descontraído para distraí-la...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Dadaismo de um dia...

Tapioca.
Gato morto.
Sorrisos tortos.
Divagação.
Medo.
Retorno.
Partida.
Gato morto.
Lotação.
Nervosismo.
Apresentação.
Lua nova no céu.
Algo mais que divagação.
Luzes da cidade.
Sono que sempre vem.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Divagando devagar

Eu não espero a morte.
Ela que me espera.
Pedras pequenas que rolam para o abismo.
Passar dos anos,
que também caem com a gravidade.
Nada resiste.
Tudo se entrega ao solo.
No fim,
fertilizamos a terra.
Servimos de comidas para outros animais,
que não humanos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Olhos famintos

Que olhos sorumbáticos aqueles que não me pediam esmola...
Olhos preocupados, cansados, sem perspectiva.
Iris da cor da morte.
Quem sabe uma oportunidade.
Algo mais que nuvens no céu.
Estrelas balouçantes.
Cantigas de ninar.
Quem dera eu pudesse acalentar todos os corações sofredores...

domingo, 22 de novembro de 2009

Na espera...

"The answer, my friend, is blowin' in the wind!"

- Muito bonito!

"The answer, my friend, is blowin' in the wind!"

- Ok, já ouvi...

"The answer, my friend, is blowin' in the wind!"

- Já basta! O vento nunca chega!

sábado, 21 de novembro de 2009

Bem-te-vi II

E foi um bem-te-vi que eu vi pousar naquela árvore,
com um canto fabuloso.
Sorrio mesmo,
sem medo de um possível dia nebuloso.
Carrego no peito um coração, que agora ameno,
transborda.
Não só de paixão,
mas também, com a alma de menino,
que eu havia perdido em um corredor qualquer.
Hoje, as esquinas têm luzes.
As luzes, são sóis.
Só, eu não mais fico.
Guardo risos na bolsa.
Para soltá-los quando eu bem quiser.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Bem-te-vi

Porque a saudade aperta e o coração bate quando se ouve seu nome trazido pelo vento.
Olho rosas que não carregam sequer um lamento.
Petálas formam letras.
Letras formam palavras.
Palavras de verdade...
Assim como o sentimento que pulsa em minhas veias.
O dia acordou mais belo.
Sincero, como o canto de um bem-te-vi.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Guerra

Se na guerra hei de entrar.
Na guerra hei de me ferir.
Cicatrizes indeléveis sei que vão surgir.
Mas estou aqui pelo furor.
Pelos ares que irei voar.
Avião cortando as nuvens,
Fumaças que se espalham na atmosfera...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Lagarto

Eu sempre parto sem dizer qual destino seguirei.
Abandono o invólucro e vislumbro horizontes.
Alcanço nuvens que outrora julgara impossível.
Respiro o ar do céu.
Sem medo de chegar às estrelas...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Percepções

Vi passar corações na rua em vez de carros.
Vi estradas virarem mar de flores.
Graúnas voavam, cantando alguns amores.
E em vez de nuvens, certos algodões doces.

Nota mental: Devo tocar no irreal mais vezes...

domingo, 15 de novembro de 2009

Nariz

Sinfonia.
Ou uma melodia qualquer.
Hoje o mundo tem mais nuvens.
E o céu é mais azul.
Todo gracejo e brilho no olhar.
Mesmo parando de sonhar,
a nota da música continuou tocando arranjos,
sempiternos.

sábado, 14 de novembro de 2009

Devaneando

De onde vim?
Bem, de um local calmo.
Florido.
Uma casa velha, mas em boa conservação.
Uma árvore de não sei o quê,
que dá frutos que ninguém come.
Azul do céu.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Poeta, o Palhaço II

Pus a gravata.
Encaixei a cartola.
Não sou um mágico,
nem falo igual vitrola.
Meus sapatos são longos,
meu riso, profundo.
Com um simples gracejo, alegro o mundo.
Queria ser poeta,
mas minhas canetas só rabiscam meus delírios.
Ontem, colhi um lírio.
Hoje, no mesmo lugar, havia uma outra flor.
Nariz de palhaço.
Mundo sem desamor.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A MORe o Mar

Deixa, menina.
Eu a abraçar e sorrir.
Não quero ver o trem partir.
Nem espero a noite chegar.
Quero raios de sol.
Momentos, delírios.
Eflúvios.
Você e eu.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Acaso

Joguei a última pedra para dentro do abismo.
Já é hora de pular e voar...
Não há choro, nem delírio.
Se o vento quiser me levar, asas certamente brotarão...

SELO

Queria agradecer o selo dado pelo blog Cantinho She.

Eis o selo:




Posteriormente edito o post com as indicações.

Um obrigado pelo reconhecimento!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Incompletudes

Incompleto.
Peças de quebra-cabeça em falta.
E a corrosão que o tempo causa.
O ferro virou ferrugem.
Amanhã será só pó astral...


P.S. Traduzi um poema para o inglês:

But I don't go down here in infinite.
My stop is a little earlier.
I'm like the little life of a falling leaf

domingo, 8 de novembro de 2009

Sem açucar, por favor...

Vamos, dê com a bala no meu peito e acabe essa história.
- Morto não fala.
Já lhe disse que eu não sei onde se esconderam seus sentimentos.
- Você sabe muito bem!
Repito, estava olhando a lua e não os vi partir.
- E o que há na lua?
A minha alegria.
- Ok, você ainda tem algo por que lutar. Pode ir...

E o homem pegou a escada maior que existia e escorou na lua, enquanto cantava cantigas que sua mente achava convir...

sábado, 7 de novembro de 2009

Visita

Eu, nascido do amor.
Ao amor dediquei cada palavra em meus versos.
Pingo de chuva que forma o orvalho.
Arco-íris que só as crianças vêem.
Pote de ouro?
Nem sempre.
Sorrisos?
Há logo ali uma caixa cheia deles.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Opinião

Se para uns somos folha seca no chão, para outros, somos arte...
Quadro pintado com o mais tênue tocar.
Imagem que salta para a realidade.
Somos sol, somos brilhar.
Um rio de liberdade.
Água branca, mente limpa.
Um mundo sem animosidade.

1 ano de BLOG!

Bem, gostaria de recordar que este blog, inicialmente com proposta de me deixar espaço para escrever, completa, nesta data, o seu primeiro ano.
Foram muitas transformações, muitas percepções e muitas pessoas que aqui passaram.
E de alguma forma, os agradeço pelos comentários e pela participação nos textos.
Afinal, o escrito não acaba no ponto dado por quem escreveu.
Há reticência ou vírgula. Continuidade no pensamento.
Isso que é o ponto interessante.

Como espécie de comemoração, resolvi criar um selo, com intuito de agraciar algumas pessoas pelo dom da escrita, que conservam em suas mãos e cérebro.

Eis o selo:


E agora os indicados. Que serão no número de 6:

1 - http://contrapto.blogspot.com/
2 - http://do-gmas.blogspot.com/
3 - http://inspirar-poesia.blogspot.com/
4 - http://macaires.blogspot.com/
5 - http://d-bedotti.blogspot.com/
6 - http://leisdalais.blogspot.com/

Quero muito agradecer a todos, novamente.
E dizer que os demais visitantes não foram esquecidos. Tentarei manter o objetivo inicial do blog de para cada novo dia, uma nova postagem.
Que seja longa a vida, mesmo sabendo que para a morte ela continua breve.

Abraços!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ao coração

Trouxeram aqui uma pequena chama que,
Agigantada por uma esperança,
Incendiou meu coração.
N'alma uma lembrança.
Nacar das nuvens,
Anil de algum céu.
Nós desatando. Panos brancos. Paz com gosto de mel...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ponto de ônibus

Mas eu não desço no infinito.
Minha parada é um pouco antes.
Sou breve como a vida leve de uma folha que cai.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Calor

E se no riso me perco.
Não me acho.
Nem tento.
Chega de sofrimento.
Nuvens negras já deixam o céu que outrora fora insensato.
Hoje vejo o anil, que não desvanece mais.
Sopro palavras ao vento.
Faço sinais de fumaça.
Vejo a fogueira crestar a madeira enquanto conto histórias a mim mesmo.

Selo - Café Preto

Queria agradecer o selo indicado pela Luna. Com muito carinho recebo essa oferta.

Eis o selo:



Pela densidade contida nos textos, semelhante a de um café preto, repasso tal selo para os seguintes blogs:

1 - http://espelhoinverso.blogspot.com/
2 - http://contrapto.blogspot.com/
3 - http://macaires.blogspot.com/
4 - http://inspirar-poesia.blogspot.com/
5 - http://d-bedotti.blogspot.com/

É isso. Mais uma vez, obrigado!

Márcio Vandré.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Pulsante

Trago no peito um coração pulsante.
Acelerado como as emoções que cercam o pôr-do-sol.
Inspirado como um belo quadro.
Natural, como seu sorriso.
Necessário, como seu olhar.
Ainda vejo todo dia a sua estrela a me guiar.
No universo que alguns chamam de amar.

domingo, 1 de novembro de 2009

Cartas, vida e um amor

Escrever cartas de amor em cartas de baralho...
Observar o rei e a rainha sob o domínio pleno de si mesmos.
À mesa, um ás de espadas.
Melodia bela, uma jogada.
Olhares cortados.
Sentimentos e guitarras.
Algum barulho bom.
O curinga e o sorriso.
Vejo uma ponte.
Trevo, três, quatro flores.
Não há sequer um girassol que não tenha se curvado ao poder do sol...

sábado, 31 de outubro de 2009

Fim dos tempos

Envenenei o veneno.
Soprei verbos inconcebíveis.
Desertifiquei a alma dos outros.
Luzes em falta.
Quiçá a lua ainda viva, muito embora não possua a carga lisérgica de outrora.
Preto, branco, sangue.
Pétalas mortas e murchas.
Silêncio na cidade.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Quebrar

Peças de quebra-cabeça se encaixam.
E com o tempo se fixam, eternas.
Dançam valsas infinitas,
até o último cintilar do vaga-lume.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Dança

Estrela fulgurante, que trazes?
- Um realejo.
De novo com gracejo.
- Esperava o quê, um beijo?
- Não sejas tonta, conceda a mim uma dança.

E bailaram, doces e sinceros, o sol e a lua...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Relicário

Chovia. No meio da madrugada, corria um homem sem rumo. Carregava, além de suas roupas, um pequeno relicário. Não era vigário, nem possuía crença alguma, mas parou em frente a uma igreja. Lágrimas salgadas se juntaram à água que brotava do céu plúmbeo. Em sua cabeça, entretanto, nenhum pensamento.

A chuva incessante e nenhuma música. Nem pessoas na cidade. Melancolia exacerbada num quadro, pintado com os dedos de algum ser, inacabado.

- Eis nós que somos incompletos. - Falou o homem.
- Eis nós que nos entregamos às tentações e paixões do corpo.
- Eis nós que matamos, roubamos e gargalhamos ao longo da fogueira.
- Eu condeno a todos, inclusive a mim...

Relicário ao chão. Fotos, impressões, tintas diluídas colorindo ruas. Silêncio. Alvorecer. Passos longínquos. Cantoria dos pássaros. O sol e o confessionário.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Blasfêmia

Assoprei as nuvens.
Empurrei-as para longe.
Moldei o céu.
Fui deus.
Em um sonho, ou lembrança que ouso lembrar.
Pintei aquele papel.
Fui dono do pincel,
até a tinta acabar.

Hoje, vagabundo,
nauseabundo, errando seres errantes.
Causo frio e tormenta.
Lavar o sangue incrustado das mortes que não evitei.

Aguardo a hora do ocaso, que não determinei.

domingo, 25 de outubro de 2009

Ausência II

Ausência presente...
Seja da batida opaca de uma gota que encontra o chão, ao lamento de um violão...
Ausência...
Portas abertas e casa vazia.

sábado, 24 de outubro de 2009

Natural

O terreno seco da alma não se rega com o pranto.
Faltam pratos para os que reclamam famintos.
Esgotaram-se os caminhos para os que preferem quedar na lama fria, sem poder vislumbrar qualquer sol.
Mares revoltos não tem qualquer direção.
No ponto mais alto de uma montanha,
nuvens.
Hoje deve chover.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Escolhas

Escolhas e caminhos.
Estradas sem volta...
Horizontes plenos e doces, nem sempre.
Presente que se tornará futuro.
Tem vezes que precisamos só sentar e ver o sol descer.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Jardim

Hoje entrei no meu jardim.
Cortei begônias velhas e cheias de mofo.
Retirei o capim bravo e volumoso.
Reguei.
Vou aguardar nascer naquele canto uma nova flor.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Fim

As sombras contaram segredos, mas ninguém ouviu. Quiçá as árvores, muito embora tenham estas permanecido caladas, a não ser pelo tilintar das folhas causado pelo vento.

Era o guerreiro e sua sina. Fim da guerra. Sonhos ao léu. Espadas e flechas ao chão.

Não havia motivo. Nem antes houvera. O mar de sangue varrera o campo, pela última vez.

Era entardecer, quando este gravou o nome na pedra que seria sua lápide. Voaram rosas, às vezes vermelhas.

Imperou mais uma vez o silêncio, interrompido por uma certa sinfonia de grilos. Vagalumes. Depois mais nada.

Nem a lua brilhou esse dia.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Rabiscos

Como é que pode?
- O quê?
Deixou escapar o sonho, ora.
- Mas nem o vi.
Sempre tem esse mal.
- Você que talvez enxergue demais.
Mas eu vi, eu juro, se uniu ao sol.

Cada foto é um momento.
Cada momento é uma história.
Cada história uma moldura.
Cada moldura um quadro pintado com o mais tênue pincel.
Aquarela de cores.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Amanhã SER

Hoje acordei poesia!
E no meio do quarto vazio, surgiu um sentimento.
Brilhando, como não via há algum tempo.
As paredes, todas brancas, não reluziam qualquer dor ou lamento.
No teto, não havia mais telhas, só algum anil.
Voar, sem levantar.
Será sonho?

domingo, 18 de outubro de 2009

DI vagar.

Imerso na escuridão da sombra do pilar,
olho para o céu.
Azul, como nunca fora.
Querer me unir ao nitrogênio é virar pássaro?
Ou simplesmente uma nuvem?

Provavelmente nunca obterei essa resposta.

sábado, 17 de outubro de 2009

Poeta, o Palhaço

Havia uma cachoeira

de água límpida e resplandecente.

E um arco-íris cercava o céu.

Lá na margem, sentou-se um Poeta com sua caneta multicolorida.

E fez seguir na correnteza seus pensamentos.

Profundos, cheios de alento.

Como gargalhadas ao cair do sol.


Foi tão grande a quantidade de sorrisos na cidade,

que olhando para as nuvens,

Poeta resolveu partir.

Criar felicidades onde nenhum ser tinha já ousado ir.

Pintou um nariz de palhaço.

E desenhou uma roupa que desejava desde sempre vestir.


Voou.

Como os pássaros.

Mas sem a necessidade de asas.

Guiado pela imaginação que o concebera.

Poeta.

Filho da pena e do papel.

Escrevendo letras que caíam saborosas como o mel,

que alguma abelha colhera em certa flor.


Em sua viagem, descobriu ainda mais o amor.

E os olhares agradecidos,

fazendo partilhar a emoção da vida plenamente vivida.

Sem deixar a escuridão incomodar,

Muito embora continuem anoitecendo os dias.


Pois sempre ascende o sol.

Acende a luz.

Brilham as estrelas.

Mesmo cedo.

Segue a poesia infinita.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Estações

Deixe o tempo passar
e a maçã rosar até cair do pé...
Veja o outono chegar,
folhas amarelas,
vôos breves,
sequidão da alma com o inverno.
Rostos na janela, esperando a chuva findar.
Uma rajada de luz a rasgar o azul.
Flores que enchem campos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mercador

Que trazes?
- Um pote.
Qual é o valor?
- Incomensurável.
O que contém?
- A morte.
Lhe pago vinte contos!
- Não é um preço digno.
O que preciso então para tê-la?
- Estar vivo.
Mas me tem como exânime?
- Certamente não.
Então me dê esse pote, homem!
- Se esse é o seu desejo...

Depois o barro encontrou o chão.
Afora o silêncio de alguns passos, nada mais foi ouvido.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Testamento

Deixou o sangue esvair por quê?
- Não havia mais tinta.
Perder a vida assim?
- Em nome da continuidade da arte.
Mas morrerá.
- Certamente.
Não entende que a arte parará nesse seu último ponto?
- Todos sabemos que o ponto final pode virar uma vírgula.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Poeta II

Deixa o devaneio pousar na ponta da caneta...
E esvair junto com a tinta.
Preencher o papel de uma cor qualquer.
Guardar um pensamento, para que não voe com o vento.
E continuar a viver!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Poeta

Assobio. Vejo as nuvens modorrentas deixando o céu, tal como se fosse uma cortina revelando o espetáculo do azul-anil. Há uma brisa aqui do alto da montanha. Não vejo o chão, mas não importa. Estou no lugar reservado para os deuses. O recanto que será meu túmulo.

O silêncio predomina e abomina qualquer outra forma de vida. Os passos que dei foram cobertos pela névoa. E as escoriações, consumidas pelo tempo.

Aliás, não há tempo. Há um estado amorfo. Não sinto a velhice chegar e nem perco minha juventude em cada olhar que cedo.

Digno-me de aguardar o ocaso.

Que nunca chega.

Não sei até quando terei tinta para lançar minhas cartas ao ar.

domingo, 11 de outubro de 2009

Palhaço II

Se num sonho viro palhaço,
se no outro me desfaço
e refaço o pensamento num assopro, num olhar.
Não importa se o que vem é reconhecimento ou esgar.
Deixo a semente plantar
Ser regada pela chuva que cai,
ou tonificada pelo brilho que emana do sol.
Vejo o tempo passar, pego minha trouxa e parto.
Florescer outro lugar.

sábado, 10 de outubro de 2009

Agradecimento

Queria deixar aqui meu agradecimento para o Caco Galhardo, por ter reproduzido uma tirinha minha no seu blog.
O cara é um dos melhores cartunistas aqui do Brasil e tal atitude me deixou bastante feliz!
Obrigado!

Velhice

Não vejo há um bom tempo. A palheta de cores se deixou invadir pelo preto.
Não escuto também nem o mais reles sonido de qualquer pássaro bravio.
Nunca mais toquei em sequer uma pétala de rosa.
E abandonei meus gostos, e os perfumes que não mais sinto.
Que esperar da vida a não ser a morte?
Ouço o relógio badalar a cada hora passada.
E o ser ossudo, cheio de mágoa, mais uma vez tarda.
Certamente não virá.
Assim como ninguém veio.
Não são todos os que conseguem escalar um devaneio.

Dueto

Yasmin Lara, dona do blog www.contrapto.blogspot.com, propós que nós fizessemos um "dueto" em poesia.
Gostei do resultado:

Lá no horizonte surge um sol
brilhante, como jóias raras.
Sua luz incessante clareia o dia.
perfeito, como uma sinfonia.
De longe vêm os pássaros com a cantoria,
suas notas alegres fazendo-me companhia,
Desvanecem qualquer monotonia.
Ah, caro sol, deixe-me em ti me acolher!
Completar o quebra-cabeça que é viver.
Se me abandonas assim, em sombras,
fico na corda bamba, perdido no escuro do meu ser.
Quero mais é essa claridade infinita!
Absoluta, como a sensação da música que finda.
Quero essa felicidade constante
Chega de sorrisos por instantes.
Ah, caro sol, quero brilhar!
Para sempre, até essa minha louca vida terminar!
Não quero esperar o inverno chegar...

Espero que venham mais. :D
E dá-lhe msn!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Juventude

Criança.
Sorrisos na lembrança,
que vem e vai.
Criança.
Balançando na bonança.
Avião que não tem rumo,
mas nem assim cai.

A roda gira.
Gigante, enquanto apequena-se o dia.
E vira noite.
Surge estrela.
E a cantiga, plena e doce, acalenta.
Deixe o sonho de nuvem voar à plenitude.
No último pó astral.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Caminhos

Sentiu no vento o seu destino.
E com um passo só, o seguiu.
Depois, claro, vieram mais passos.
Que a maré tratou de apagar.
Caminho seguido não há como retornar.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Tinta

Não tenho arte, obra, tese.
Não sigo o caminho dos outros.
Deixo o rastro dos tortos se apagar.
Uma mão de tinta já basta.
Um riso, um olhar.
E vou trabalhando o branco.
Enquanto o pranto fica da cor do nacar.
Olha a lhaneza a passar.
O tédio.
E a nostalgia.
Sentimentos que são humanos,
como o humano que sente que é sentimento.
Não importa se a luz não brilhar.
A escuridão é cor que se pode pintar.
E olha que a vida nem saiu do lugar.
Pois não findou o dia.
Monotonia que faz criar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Fly

Que o sossego venha e não tenha esmero.
Que o dia acabe, sem haver destempero.
Que a música toque para sempre, sem desafinar o canto dos pássaros invisíveis que só eu vejo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Vida II

Consuma o que solto no trago.
Trago a sabedoria de poucos.
Poucos são os que sobram.
Sobram restos de ontem.
Ontem que foi hoje outrora.
Outrora, lindo tempo que colhi uma flor.
Flor, que não possui mais olor.
Roda viva que nunca pára.

domingo, 4 de outubro de 2009

Esperança

Ser feliz é lavar a alma.
Encher o balão das idéias.
Flutuar por um mar enevoado,
sem medo do porvir.
Deixo-me perder por um sorriso.
Paixão que há de vir.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Baldio

Neste terreno,
só as bandeiras flamulam,
mesmo que não exista o porquê.

O tempo é o único ser soberano que atua,
transformando ossos em areia,
que se torna pedra vazia.

Corações enregelados.
Ausência de calor.

Ainda dizem os relatos dos mais corajosos, que viram por aqui uma cadeira de balanço sem dono...
Outros vêem corvos a grasnar, como se a todo momento evocassem a morte.
Mas o ser de ossos largos, macambúzio e soturno,
já levou a vida e o brilho desses grãos...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Musicalidade

"So far away from me,
so far i just can't see..."

- Eu não sei ler a placa...

"So far away..."

- Ou a música que toca...

"So far away from me..."

- Tão distante, que nem posso escutar ao certo...

_____________________________
P.S. Escrita empós uma boa dose de Dire Straits.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Au revoir

Despeço-me aqui dos sonhos passados.
Guardo-os na gaveta,
para que não haja lufada que leve.
Junto nos trapos um caderno e uma caneta.
Tudo o que eu preciso...
Abro a porta e a fecho para sempre.
Emoções à frente sei que virão.
Reescrever a história.
Desenhar o caminho com tinta indelével.
Tudo que passa não apaga.
O sol ao final da noite retorna para mais uma vez brilhar.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Espera

Há tanto amor não só em você, mas no mundo todo.
Muitos aguardam sentados nas velhas pontes de madeira.
Vêem o rio passar.
Vêem a esperança chegar e partir.
Vêm a amargura.
O desejo do porvir.
Melhor.
Horizonte.
Semblante sincero e tênue.
Olhares macambúzios e cheios de lágrima.
Você pôs a melhor roupa.
E só o vento chegou...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Conspurcado

O que escrever no papel?
- Algo ameno...
Por quê?
- Não queremos ofender ninguém.
Mas e as inverdades?
- Não precisa mencioná-las.
Pois tome a caneta!
- Não mede as consequências deste ato?
Prefiro abandonar tudo do que rolar na lama.
- Pois vá embora, que a rua o aguarda.
Melhor a rua do que cheirar a esgoto.

domingo, 27 de setembro de 2009

Poesia

Poesia é teatro gratuito que se apresenta no pensamento.
Não há texto a ser gravado,
pois de súbito surge.
Seja pelo enlevo de um voar tranquilo de uma garça que normalmente não existe por aqui.
Seja pelo grasnar do corvo que gera medo em quem há de convir.
Dizem as línguas que poesia se fecha com os olhos, tal como a cortina no ocaso do espetáculo.

sábado, 26 de setembro de 2009

A conversa e o pensamento

- Eu também quero o mundo!
E eu os melhores vinhos e fartura.
- Eu quero os sonhos profundos.
Eu quero ostentação e luxúria.
- E eu desejo a sorte inteira.
Deixa de besteira e pensa alto.
- Eu quero ser feliz.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

s. f. 1. Estado ou circunstância de não estar presente

Ausência.
Chão infertil.
Palavras e cartas jogadas ao vento.
Mente senil.
Pensamento vil, que leva e traz amarguras.

Ausência.
Réstia de esperança.
Lembranças que se perdem nas esquinas da consciência.

Ausência.
Sopro da morte.
Lufada silente,
que faz minguar qualquer sol.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Voyage

Já cansei de andar.
- É logo ali.
Minhas pernas não respondem mais.
- É passando o horizonte.
Não me lembro o porquê de andar tanto.
- Anda porque vive, ora.
Se eu parar eu morro?
- Morre.
Duvido!
- Pois tente!

E o homem permaneceu hirto, enquanto a sombra do outro desvanecia com o passar do tempo.
Logo anoiteceu.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Desamor

Ordinário amor.
Privaram-me de ti.
Agora ando suplicante.
Com minha vasilha de moedas.
Cantando em esquinas que julgo ser a mesma coisa.
Labirinto.
Não ouço sequer um palpitar do coração que empederniu.
Só passos incertos.
Devaneios, que começam conversas e não terminam.
Luz que permanece intangível.
Sol que nunca amanhece.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ponto

Labaredas.
Fogo que corta o céu.
Fumaça que desenha figuras ininteligíveis.
Garatujas que lembram a infância.
Em boa hora vou embora.
Fecho a porta para não assistir a floresta se tornar pó.

domingo, 20 de setembro de 2009

Chuva

Deixa chover.
Deixa a água correr e lavar o chão imundo.
Quem dera que lavasse o mundo.
E levasse o mal para o esgoto, profundo.
Que se encha o rio, não mais de lágrimas.
Que se viva a bonança, não mais mágoas.
Deixa chover.

Batalha

Vi.
Lutei.
Sangrei.
Venci.
À espada não me presto.
Ao escudo, partido e atulhado de flechas, renego.
Deixo a alma me guiar.
Uma suave canção de ninar, que se distancia da guerra.
Redenção.
Clarividência.
Luz.
Nada mais.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Gárgula

Estou esperando.
Para sempre.
Empedernido como uma gárgula.
Garganta seca, sem uma gota d'água.
Pois há muito não vejo chover.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Dúvida

Por que a dúvida?
- É preciso.
Não acha um assunto saturado?
- Está tendo dúvida agora. Então, conclui-se que ela nunca satura.
De novo vencido pelo pensamento.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O homem

Disparei o tiro.
Morreu o passado.
O presente.
O futuro.
Restou o algo imaginado em um tempo.
Furtivo.
Carregado de enlevo.

Não há funeral.
Nem remorso.
Nem corneta.
Só mistério.

Para me distrair, recorto um pedaço de papel.
Faço um pássaro.
Um avião.
Com um pouco de carvão rabisco uma canção.
Que não poderei cantar para ninguém.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Desencontros

O tempo está acabando.
- Nunca é tarde.
Mas eu digo que está.
- Não importa.
Vou embora.
- Deixe a porta aberta.
Não retornarei.
- Tudo bem.
Adeus.
- Adeus.

...

- Só uma coisa.
Sim?
- É melhor fechar a porta. Não quero que entre ar.

Ataque

Não admiro tua escrita, porco imundo. Tu que molhas a caneta na lama e a usa para macular o papel, tão diáfano, que nele só deveriam tocar os deuses.

Não evoque teus pensamentos. Não há quem escute. Nem leia. És marginalizado. Expele o lixo que comes numa poesia vazia, com fome.

Perde-se nos malogros. Afunda-se no abismo mais profundo. E deixas o vento mover o relógio do tempo esperando o ponto final estupendo. Que nunca vem.


sábado, 12 de setembro de 2009

Keep walking

Supus.
Passou o tempo.
Olhei para trás.
Não havia nada.
Na frente sim, um caminho.
Não trilhado, diga-se de passagem.
Quiçá a hora de continuar tratou de chegar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Deixa eu sonhar

Profundo sonhar que a mim não compete.
Sopro esgar.
Deixo o vento carregar.
Fecho os olhos e sinto tudo desvanecer.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Palavreado II

Poço profundo.
Profundo pensamento.
Pensamento que voa e se perde.
Perde e não se acha.
Acha você que não se esconde.
Esconde a ira e desenha uma garatuja.
Garatuja de gente que vejo passar à rua.
Rua sem nome, esquina com avenida inominada.
Inominada essa falta que uns teimam em chamar de vazio.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Novamente Devaneio

O vento.
Não veio.
No fundo o abismo.
Meus olhos vêem nada mais que nuvens de algodão.
Ainda não é a paz...

A minha sombra pergunta se espero a morte.
E no mesmo momento eu nego.
Não sou de saber o futuro,
nem de imaginá-lo.
Apenas o renego.

Presente, passado.
Do meu lado bailam memórias,
sem música.
Silêncio.
Absorto.

Não voam pássaros aqui tão alto,
nem se constroem sonhos.
Desmontam-se, isso sim, pela falta de sentimentos.
Meu destino é aguardar.
Até que o último raio de sol desvaneça.

Quiçá com o luar eu me esqueça.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Vaga Lume

O amor não começa e nem apaga.
Ele paira no ar o tempo inteiro.
Às vezes o deixamos escapar e emudecemos por séculos.
Às vezes o pegamos e observamos seu singelo brilhar como à noite faríamos com um vagalume.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Baile

Mudam as máscaras.
Os convidados são os mesmos.
A música que não pára ganha tons de eternidade.
O vinil estragado e arranhado sempre repete aquela nota.
Mas não há ser que perceba.
Estão embriagados pelo enlevo.
Por achar que são capazes de sonhar.
Sonhos despejados à mesa, tortos como os rostos de madeira que escondem uma face.

domingo, 6 de setembro de 2009

Aul

Alaranja-se no pretume.
Toma a paleta do sol.
E reverbera a luz que só os apaixonados vêem.
Brilha, estrela dos que veneram o amor.
Guia dos desorientados.
Quem não pensa em poesia quando a vê?

sábado, 5 de setembro de 2009

De novo o pensamento

Não me preocupo com o silêncio. O que me martiriza são as faces empedernidas. Rachadas como o chão da seca.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Alfabeto

Antes.
Bem antes do outrora.
Cavernas escondiam dragões.
Dogmas ferviam nos caldeirões.
Escaravelhos, em praga, derrubavam mil tropas.
Forcas operavam como máquinas.
Garatujas de humanos, prostrados, à espera do eclipse.
Humanos?
Insensatos.
Jargão que justificava uma execução.
Logro, só para os que locupletaram.
Manhã que não chegou para todos.
Notadamente o tempo passou.
Ou supostamente passou.
Pruridos ainda são sentidos dos esgotos.
Quiçá seja o fim anunciado há muito.
Reinos despedaçados.
Sinas descabidas.
Tristezas à mesa.
Ulular vazio de um lupino nos primeiros sinais de noite.
Vácuo.
Xale para os que sentem frio.
Zangaram os deuses.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

À mesa

Fim.
Como o começo.
Tudo é pó.
Choros se repetem.
Alegrias que se metamorforseiam em tristezas.
Não há um prato à mesa.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Proibir

- Pega a cadeira e senta agora!

O indivíduo, arrastando correntes mais pesadas que seu corpo, moveu-se, objetivando o banco de madeira, pequeno e frágil.

- Sente agora!
- Calma, meu senhor.
- Responda logo porque está aqui!
- Aparentemente, porque não consegui terminar uma poesia.
- Isso é crime grave, você sabe. Mas não a completou, não é?
- Não, senhor delegado, estava ainda em busca de inspiração.
- Então anote, escrivão. Tipificou-se o crime na forma tentada.
- Mas eu não tinha o interesse em distribuir.
- Não importa, fique calado!

Então o poeta foi recluso num ambiente opaco de tal forma que a criatividade não fluía. Sentia as idéias caírem, esparramando como água no chão. Ele não podia salvá-las, por isso assistia apenas elas escaparem pelo ralo.

Por todos os dias a primeira impressão do local persistiu. A insanidade dava um passo a cada volta do relógio. E o desejo era escrever uma única palavra, que não zelava enquanto a possuía. Liberdade. A janela torta, as grades tortas, o sol que lhe batia no cenho ao amanhecer e o mantinha com uma certa noção de tempo.

Certo entardecer, viu uma sombra no corredor. Articulou neurônios e pôs-se a pensar se aquele momento era o de seu ocaso. A execução por um processo que não sabia por onde andava. Sabia só que era realidade, pois era concreto que não estava sonhando. Sua elucubração foi cortada por um grito:

- Saia! - Vociferou um guarda qualquer.
- Está livre!

O guarda abriu o cadeado, soltou-lhe as algemas e entregou a pena que havia sido confiscada. Devolveu a folha de papel.

- Muito boa a sua poesia, caro colega.
- Obrigado, mas está incompleta.
- Está livre agora para fazê-la. Escrever não é mais crime.
- Faça melhor. Entregue para aquele delegado ordinário.
- Já morreu.
- Quanto tempo passei preso?
- O suficiente para ser esquecido. Pegue a porta e acabe o texto.

Sem nenhuma trouxa, o poeta cruzou a porta e não olhou para trás. Nem lembrava qual direção seguir, mas seus pés andaram para onde o seu nariz apontava. Uma dor no peito o martirizava por não ter contestado todo o ocorrido. Logo ele tão vibrante, tornara-se pueril.

Foi aí que vislumbrou o horizonte. Pensando na redenção, apressou-se para pegar o papel e a pena que estavam no bolso. Acabaria o texto e daria ensejo à uma nova fase. Tal pretensão não vingou, pois logo desapareceu a alegria e o enlevo se despedaçou. Deixou então o papel voar e a pena ser carregada pelo vento.

- Porcos malditos, não me devolveram a tinta!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Perturbação

Recordações.
Fotos cortadas, guardadas.
Choros insensatos, porém contínuos.
O passado não volta,
mas teimamos em imaginá-lo.
Uma realidade perfeita, que já se foi,
perdida no vórtice atemporal que a consciência não apaga.

- Para que amarga o passado, se a cada manhã nasce um sol que consegue vencer a noite?

Não sei, meu amigo. Fazia um monólogo e nem sabia que estava sendo ouvido.

- Sou seu pensamento, o ouço o tempo inteiro.

De que vale o tempo para um ser que pena?

- A pena pode escrever o presente de um futuro certo.

É sempre assim poético?

- Só quando a causa desatina.

Vá atrás de uma dose de morfina e me deixe aqui!

- ...

Novamente só.


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ao ocaso, com orgulho...

Sorrisos escassos,
perdidos.
Nesta terra não há esperança,
nem luta.
O silêncio é entrecortado somente pelos gritos dos corvos,
sorturnos e sinceros, vigilantes.
Há muito não se vê conchavos.
Nem reunião familiar.
É uma plenitude do nada.
Uma terra amargada.
Controlada pela arte do não fazer.
Até o sol pede licença para amanhecer.
Mas a luz não alcança todos.
Na escuridão, olhares soberanos.
Reinam os bichos que se escondem nas cascas de caramujo.
O futuro é a obliteração.
Uma história,
de um livro que certamente será engolido pelas traças.

domingo, 30 de agosto de 2009

Será?

Será uma estrela cadente?
- Quem sabe.
Faça um pedido!
- Não quero.
É uma única oportunidade.
- Já perdi tantas coisas que foram únicas.
Peça-as de volta.
- Acredita nessa besteira?
Se eu não acreditasse nesse tipo de inutilidade, que graça seria viver?

sábado, 29 de agosto de 2009

Lorenzinni e a Semente do Devaneio

Há dias olho o lugar que plantei aquela semente. Nada brota daquele chão. Às vezes, vejo apenas uma flor morta, ressequida, para lembrar que naquele ambiente já houve vida. Passeio mais um pouco e sinto o sorriso dos outros, empedernido como o tempo, pois há muito também não existe o cair da noite por aqui.

Volto, vislumbro meu quarto. Deito e me deixo sonhar. Acordo e não estou mais em casa. Pensando que se trata da continuidade do sonho, me perco, e não distingo se o que meus olhos vêem é real ou abstrato. Nada parece certo. Mas ao mesmo tempo me questiono se não parecera certo antes.

Do lado de fora, o céu vestido de laranja. E o sol, no horizonte que embeleza o quadro, desce lentamente, quase que pedindo aplausos. Onde havia plantado a semente, uma casa. Curioso, fui perscrutar aquilo, imaginando que tinham me vendido a semente errada.

Na entrada, encontro uma porta sem trinco. Empurro e me impressiono pelo fato de o ambiente interno não ter nenhum odor, apesar de as madeiras velhas, que formam a parede, darem ensejo a um pensamento contrário. Não existem móveis. Não existe nada. Apenas o silêncio. Lá fora já é noite.

Penso em sair para admirar as estrelas, quando escuto uma voz embargada dizer:

- Deixa o vento entrar.

Era uma senhora, sentada numa cadeira de balanço no canto da casa. Assustado por não ter notado sua presença antes, realizei o seu pedido com muita pressa, abrindo a janela incrustada que estava ao meu lado. Correu o vento. E com passos largos deixei a casa e nem sequer olhei para as estrelas. Tranquei-me em meu quarto. E o sono, mais uma vez, me levou.

Senti o ar penetrar pelo meu nariz e acordei, julgando estranho o sonho. Levantei-me e fui à varanda, como sempre fazia. Passei da porta e reparei, sem assombro, o branco que fez desaparecer toda a paisagem.

- Deixa o vento entrar, disse a mesma velha senhora, provavelmente sentada na mesma cadeira de balanço.

Procurando saber a origem da voz, olhei para os lados. Foi então que percebi que o mundo inteiro estava pintado. Sem ter outra opção, resolvi andar. Andei tanto que minhas pernas cansaram. Andei e não pareci sair do lugar. Desencorajado senti o calor da solidão. Sentei-me abruptamente, exausto. Ainda tive forças, entretanto, para perceber a presença de um objeto marrom, suspenso no ar. Julguei ser miragem, mas logo me convenci se tratar de uma janela.

- Deixa o vento entrar.

Sem pensar em que proporções aquele devaneio havia atingido, recobrei a força e marchei rumo ao meu intento, que poderia ser o último. A saída ou a entrada para um mundo mais louco. Ou a volta para o meu mundo são. Ou que pelo menos eu julgava são.

Abri a janela e senti o assopro tenaz, e, aparentemente, reprimido do vento. Quase um assobio. Notas tortas que não traziam nenhuma musicalidade. Do espanto ao pranto. O branco continuava a pintar o outro lado.

Alguém para sambar e afastar a melancolia. Alguma esperança. Ou pelo menos a terra batida e seca para observar enquanto passa o tempo. Quem sabe a semente esteja enraizando agora em qualquer lugar. De tanto esperá-la, me perdi. E não há vento que cure ou que traga a nau que se deixou cair no abismo. Estou entregue aos bichos invisíveis, sedentos de idéias. Obliterando a cada piscar. Unindo-me ao branco, para quem sabe tentar sorrir.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Macambúzio

Pisei na flor que não te dei.
E no sulco dela que escorria pelo azulejo frio,
vi o sangue que perdi
e o tempo passado,
velho e peremptório.

A mão traz rugas
e o olhar não carrega mais nenhum sonho.
Empedernido o coração.
Calado.
Insensato.

Nem o brilho da aurora inspira.
Quiçá a nuvem cinzenta, que passa despretensiosa, faça chover,
para banhar as ruas e encher o rio.
Desaguar emoções.
E fazer nascer semente plantada,
muito embora esquecida.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Selo de ouro

Venho aqui mostrar um selo que recebi da nobre colega Milena, que tem o blog MilenaBuarque!




- Regras:

1. Exiba a imagem do selo “Blog de Ouro”.
2. Poste o link do blog de quem te indicou.
3. Indique 4 blogs de sua preferência.
4. Avise seus indicados.
5. Publique as regras.
6. Confira se os blogs indicados repassaram o selo.

- Características:
. Observador.
. Egoísta.
. Rabugento (quando quero haha).
. Perfeccionista.
. Sonhador.

- Blogs indicados:

http://dixt.blogspot.com/

http://inspirar-poesia.blogspot.com/

http://macaires.blogspot.com/

http://contrapto.blogspot.com
-
Selo postado!
Em breve nova postagem.
Obrigado Milena!
Um beijo!

Insanidade e seus amigos do além

- Falta-me o novo.
És velho.
- Se tu falas, acredito.
És empoeirado e tacanho.
- Te abomino.
Está despedaçado este teu coração que tenho à mão.
- Mas ainda bate.
Não escuto.
- Não importa, sei que bate.
Bate e quem é à porta?
- A alegria.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Palavreado

Palavras desarmam.
Alucinam.
Inspiram e assassinam.

Palavras.
Às vezes as mesmas.
Tão ermas.
Navegam sozinhas por tempos.
Conquistando terrenos
nem sempre amenos.

Palavras
têm o poder de ir contra o vento
sem precisar tornar.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sonharia um sonho assim?

Sonho de pedra.
Calcificado pelo tempo.
Sonho que pesa e vira martírio.
Utopia.
Melodia que não supera a primeira nota.
Dia que apaga sem o nascer do sol.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ira

Que as partículas de terra levantem e cheguem até o ar.
Que o chão seja consumido de lava.
Que as cinzas vulcânicas corrompam o anil.
E que nenhum ser sobreviva para contar a história, a não ser eu.

domingo, 23 de agosto de 2009

Azul

Criatividade me falta.
- Joga uma moeda para o ar.
Que influência isso trará?
- Olhará para o céu.
É, isso basta.

sábado, 22 de agosto de 2009

Cartola

O raio corta o céu plúmbeo. Grasna o corvo, que voa assustado com o trovão. Na planície resta um homem macambúzio, que carrega na mão um cachimbo que lança fumaça de um pretume soporífero. Os outros humanos jazem no chão, entregues aos sonhos mais profundos, mas nem por isso tênues.

Em cada ser prostrado, o pequeno homem taciturno põe uma espécie de mortalha e reza palavras inaudíveis. Anda novamente e se agacha, de modo que transparece naquela ação um rito. Não cansa por tal ato e não solta um único suspiro. É o seu destino. O pensamento o leva a crer nisso.

No crepúsculo, se depara com um cão de olhos tristes e silencia qualquer movimento. A partir desse ponto, se opera a troca de olhares. E o homem se rende, retirando a cartola e cumprimentando o cachorro, que só observa.

Daí então anoitece. Devaneio desvanece. E o escritor encerra com um ponto e nada mais.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Yellow

O soar do vento não é martírio.
Lírio que se desprega do solo e vai povoar a terra com seu brilho diáfano.
O bater de asas das aves faz música.
As nuvens dançam.
O sol abre um sorriso amarelo.
No centro do universo desabrocha uma flor.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Espera

A espera.
O navio que não chega.
O vento que não sopra.
O dia que não cai.
A felicidade que não sobra.

A espera.
Amarga e doce.

A espera.
Ilusão deletéria.
Voa o tempo e não nos recordamos mais nem o porquê.

Deserto

Nessa noite não há lua.
Em algum lugar soa um blues.
A nuvem que eu vejo é uma garatuja das mais tristes.
Ecos.
Poeiras voando pelas avenidas.
A cidade está só.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sonomundo

Modorra.
Olhos inermes.
Metralhadoras que nem ousam apontar para o vento.
O verbo silenciar que governa este reino,
onde não são baixados decretos e nem há necessidade de lei.
Veja o povo na rua,
deitado nas praças.
O alfabeto só possui a letra z.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Do pó ao pó

As coisas não se prestam mais ao sabor das novidades, até porque nada mais é novo. O vislumbre dos doces desvaneceu, coberto pela poeira das responsabilidades.
Se por um capricho sorrio, creio eu que é nuvem que mais cedo ou mais tarde será carregada pelo vento.
No silêncio, entrecortado apenas pelas badaladas intermitentes dos relógios, carrego a sina de planejar o próximo minuto, que tenho por mim será exatamente igual aos outros.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Escárnio

Silêncio.
O tenor vai entrar na sala.
Impávido como todos os outros que aqui passaram.
E a pança descomunal balouça, como se ela que estivesse para entoar o cântico.
Os olhares da platéia aguardam o momento.
O refletor apaga.

O apresentador anuncia gritando logo em seguida que faltou luz.

domingo, 16 de agosto de 2009

Ritmo

Dança.
Bate palma.
Esperança.
Segue a música e o passo.
Não erre o compasso,
ou a roda sai do traço.
Realidade abstrata,
esse mundo louco.
Pouco afeto e nem uma réstia de alento.
Quiçá ver a chuva beijar o solo me console,
pois já não há proeza que amole este peito aberto à espera do seu bem querer.

sábado, 15 de agosto de 2009

Avante

Meu cupincha, que prazer em revê-lo!
- Há quanto tempo, meu camarada! Digo o mesmo!
Ainda seguindo a foice e o martelo?
- Não me lembro.
E os ideais de Marx?
- Não me lembro.
Mas aposto que ainda carrega o clamor dos discursos de outrora.
- Não me lembro. Aliás, quem é você mesmo?

Solidão

E neste vazio eu amolo a ponta de faca com uma única pedra que me sobrou.
Rasgo o chão que parece terra, mas não há nada palatável para colher.
Rasgo o céu e busco beber o anil,
ou quem sabe encontrar alguma estrela errante que faça brilhar o caminho pintado com a ausência de cor.
Minha sina é viver pensando que sumi,
até o dia que o corvo grasnar,
e o sino replicar para a missa da meia-noite.

Dada

Vitrine.
Que venha
a torre.
Não pago à vista
a derrota,
nem gracejo.
Dadaismo?

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Cotejos

Descreva-se.
- É difícil.
Diga uma nota que prefere.
- Nem sei tocar música.
Responda algo.
- Vá para o inferno!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Nostalgia?

As boas lembranças trazidas pela nostalgia umedecem a minha alma.
E nascem flores.
E brotam frutos.
Revelam-se diamantes brutos.
Lapidados por bestas de um só olho.
Que enxergam mais do que eu.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Tanatos

E pela primeira vez ele teve medo da morte. Sentiu um calafrio e olhou desesperadamente para os lados. Não queria partir.
Ela teria mesmo a foice e o sorriso eterno que os sábios preconizavam? Seria mulher de poucas palavras, objetiva no que deveria ser feito. Ceifava a vida e cortava o vento, para numa distração, se unir às partículas de poeira que circundam o mundo inteiro.
O dia passou, triste. À noite, ele não se refugiou no escuro, como sempre fazia. Pernoitou com a luz acesa, buscando o outro lado da sala. E nada do bicho preto malvado apanhador da seiva vital.
Quando o sol amanheceu, estava cansado. Sorumbático pela depressão que se instalara graças ao pensamento que corria solto e pintava o quadro num tom tão negro e soturno, que não se podia ver o céu.
E foi assim que esmaeceu. Exânime pela própria consciência.


Toc

Toc-toc!
- Quem bate?
Acho que talvez o azar.
- Não obrigado, dessa vez vou deixar passar.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Ao morto

A vida é cheia de perde e ganha, meu amigo.
Até você que eu carregava junto ao peito, eu perdi.
Foram lutas e lutas, nem sempre ganhas.
Foram amarguras e sorrisos, sinceros ou não.
Amigo eu não esqueço.
Não pereço.
O caminho é longo, tortuoso e soturno.
Deixo o valor que você trouxe neste terreno fértil,
para que os meus descendentes possam cantar o mito que você foi.
Para que em qualquer dia perdido no horizonte, eu possa vir aqui, sabendo que no canto onde você se enterrou, estará imponente uma flor.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Poste

A luz do poste acende e apaga.
Acende.
Apaga.
Acende.
Apaga.
Apaga.
Acende.
Apaga.
Apaga.
Apaga.
Acende.
Apaga.
Apaga.
Apaga.
Apaga...

E assim acaba-se a história.

domingo, 9 de agosto de 2009

Passeio

Universo.
Não cabe num verso.
Quem sabe uma estrela, então.
Um enlevo.
Um saborear tranquilo do ar de uma noite que o céu é o limite.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

À bela solitária

Não canso de observar seu sorriso amarelo, envolto na escuridão imperscrutável.
Me inspira.
Me faz suspirar.
Para mim, você é contínuo mistério, muito embora não tenha olhar.
Mesmo se o vento teimar em empurrar uma nuvem para não a deixar brilhar, fico no aguardo, esperando o bom senso de alguém para a descortinar.
O interregno desse tempo é tenso.
Súplica, para que a deixem ao palco voltar.
Onde é princesa, dama, rainha, cujo o rei maior não consegue encontrar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dreamweaver

Depois de um suspiro, rabiscou mais um sonho e o pôs na caixa.
Sorriu, pois achou que satisfaria a próxima pessoa felizarda.
Agora já era a hora de ir embora.
Então se levantou. Sentiu o peso dos anos nas pernas. Havia parado de contar aos 120.
Abriu a porta da casa e se deixou voar, juntando-se ao anil, sem deixar vestígios.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Criança

Eu sou pensamento imaginado na infância.
Malgrado não tenha me tornado herói, nem vilão.
Sou eterna criança.
A navegar no meu navio invisível pelas nuvens sem fim.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Divagar é preciso

Hoje resolvi acompanhar minha sombra.
A imitei a cada passo dado.
Andei no mar, da maneira mais sublime que eu poderia imaginar.
Até que caí gargalhando no chão, desvanecendo enquanto a noite se vestia,
sombria.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Três pontos

...E no auge de seu discurso, o ditador resolveu parafrasear Julio Cæsar, sem sucesso:

Eu venci porque vim, mas não sei o que vi aqui...

No dia seguinte houve uma revolução...

domingo, 2 de agosto de 2009

Relato

Hoje observei o relógio de ponteiro da cozinha. Quanto tempo levou eu não sei, mas tive a impressão e uma certa idéia de valoração do passado, presente e futuro.
Quantos momentos deixamos passar e escapar junto com a areia da ampulheta.
Um minuto passou.
Talvez dois.
E o que eu fiz para o mundo?
Sentei e refleti este imenso infinito que é meu.
Horas passam.
Divago.
Logo existo?

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Vida

Cacos.
Lembranças.
Vitórias e malogros no chão.
Olhares perdidos e incertos.
Cenho macambúzio.
Sementes voando com os pássaros.
Quiçá porque a fertilidade do terreno não mais impere.
Outros campos, quem sabe.
Novas planícies virgens.
Uma soberba visão para o horizonte.
Pôr-do-sol.
De repente é noite.
E o nublado que agora se perfaz no céu impede o vislumbre da lua, que tenho por mim estar em fase de sorrir.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Il Silenzio

O silêncio ecoou na sala.
Apenas os olhos cantavam com lágrimas que percorriam toda a face.
Um canto ausente.
O fim das histórias.
A poltrona vazia.
A despedida.
O pombo branco errante que se perde no horizonte.



E.T. O video é de uma apresentação do Maestro André Rieu e a música tocada é "Il Silenzio", pela pequena e bem afinada Nini Rosso. A música foi a inspiração de hoje para a poesia. Obrigado.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A bailarina

Ela não pára enquanto a música não cessa.
Gira e gira, como se a vida não fosse problema.
O suor é a lágrima pelo movimento perfeito.
O sorriso, a graciosidade de uma flor no palco.
Bailarina acaba de desabrochar mais um passo.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Desilusão

Desilusão.
A maior descompensadora de caráter.
Desilusão. Marca indelével. Marca a ferro e fogo a pele nua dos que se corrompem com ela.
Desilusão.
Puxe o baile e a valsa.
Dance comigo, sem me possuir.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Egoísmo

Caem milhões de pequenos meteoritos do céu. É uma chuva bonita, que ilumina a noite. Eu, que particularmente não esperava nada, sou brindado com tamanho enlevo.

As estrelas estão fugindo, - fala, sabiamente, um pequeno garoto que eu não havia visto.

E centenas de outras pessoas surgem para acompanhar aquilo que eu julgara ser o meu momento.

Distraio-me com o falatório incessante, enervo-me e a chuva amaina.

Aos poucos, os pés indecisos caminham para longe. Por último, a criança vai embora. A capa coberta de negro da noite se abre novamente quando vê que eu estou só.
O espetáculo continua.
Só meu e de mais ninguém.

domingo, 26 de julho de 2009

Bicho do mato

Olhe para os meus olhos.
Veja o mundo que eu vejo.
Veja!
Será que só eu vislumbro esse céu azul?
Não fala. Só cala.
Igual aos demais.
Próxima pessoa. Que não seja tacanha,
por favor.

sábado, 25 de julho de 2009

Não sei

Já me perdi em sonhos.
Flutuei para oceanos que imaginei não ter saída.
Mas na vida, sempre há quem diga que a porta que se entra pode ser a de fuga.
E assim ousei.
Transformei o tempo e o coração.
E na excitação do cotejo, surgiu uma elucubração:
Que os sonhos são para serem vividos na gota.
O sonho que transborda perde o rumo e seca.
E os anos são curtos, e os dias não são mais de outono.
Somos loucos, nós humanos

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Anil

Hoje o Sr. Bustamante partiu para o seu último vôo. Entre as brumas, perdeu-se dos olhares aflitos. Ele, que se vangloriava por ser o melhor piloto, decidiu não mais enfrentar o céu companheiro. Preferiu unir-se a ele.
Nas suas glórias hoje me inspiro, mesmo sabendo que sua maioria era de devaneios insondáveis. Guardo sorrisos tão bem sorridos e sinceros. Viajo em pensamento e até posso voar com ele. No avião de caça.
Como é bela a vista de cima. No céu de anil não há medo. Só sossego. Pleno.

Ao meu avô João de Deus Bustamante.
Já sinto saudades.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ausência

Já falei sobre isso.
- Então, qual a idéia nova para hoje?
Não sei, algo surpreendente.
- O que pode surpreender essa platéia tão calejada?
O nada.
- Hum?
Isso, não vou me apresentar para que assim sintam faltam. Concorde, é a melhor jogada.
- De fato isso nunca tinha passado pela minha mente.
Chame-os e apresente-os a ausência.
- Pronto.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Circo

O palhaço entrou chorando no palco
e a plateia que esperava uma comédia não sorriu.
Daí então imperou a tensão e a troca de olhares.
Nas cadeiras, espelhos macambúzios e descabidos mostravam os rostos indecisos dos espectadores.
Sem nenhuma palavra, o mesmo ser que adentrara há pouco no palco, agora já saia, ovacionado pelo silêncio.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um Emaranhado de Pês

Prezo a liberdade.
Preso jamais ficaria.
Preciso ir, correr na ventania do dia.
Preciso como uma flecha almejando o alvo.
Prefiro marchar e morrer do que retroceder.

domingo, 19 de julho de 2009

A pessoa errada

Eu escrevi para a pessoa errada
e parti,
na sobriedade de uma tarde de verão.
Não esperei retorno,
pois não há retorno.
O vazio do passado é retrocesso.
Desconexo.
O vórtice famélico que suga qualquer sopro de vida.
Correr.
Porque esperar é pagar para a vida deixar de aplaudir.

sábado, 18 de julho de 2009

A face de um corcunda (A alma de um ser bonômio)

Este reflexo que eu nego sei bem que não é meu.
Estes espelhos que me rodeiam são só ilusões.
Só me livro delas quando procuro os pastos verdes e olho para o céu.
Lá não há resquícios do eu.
Existem pássaros, nuvens que me põem em elucubração.
Há mais coisa na terra.
Há vida e suspiros.
Poemas e delírios.
Jocosidade e dança.
Esperança e gotas de orvalho que brilham com o raiar do sol.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Narciso (A alma corcunda)

Esse meu reflexo na água é perfeito.
Há de quem turve esse plano.
Viraria insano se não o tivesse, nem que fosse por alguns segundos.
É meu mundo, pouco importa o resto.
Atrás de mim, vermes desconexos claudicam, mas tento não ouvi-los.
Que o fogo dos céus desça e queime as planícies.
Para mim, só basta o lago e eu.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

aifosoliF

Eu sou o início do meio.
O fim do começo.
O meio do fim.
A juventude que umedece o jardim das idéias.
E faz reinar soberano o pensamento, mesmo que muitas vezes incerto.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Pátria

Quanto essa bandeira representa para você?
- Aqui eu a vendo por 15 reais.
Esse é o valor que dá à pátria?
- Esse é o valor que garante a minha sobrevivência.

E nada mais foi dito.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Ao sem sentido

Diga adeus.
- Ao Amor?
Não, esse já partiu.
- A quem então?
A mim.
- E vai para onde?
Ainda não decidi.
- Então, siga reto ao norte e caía no precipício. Olhe para o céu azul enquanto a queda é certa.
Não entendo.
- Aproveite o momento aqui e veja, pela última vez, o vislumbre do paraíso que jamais tornará a pisar.
Mas eu nem sei aonde é o norte.
- Não adianta chorar. Só diga adeus e vá.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Olhar

Eu vi o olho que tudo vê.
Ele me viu.
Um momento de agonia que desvaneceu num só piscar.

domingo, 12 de julho de 2009

Som e fúria

O pequeno Floyd se afastou da vila. Procurou os campos verdes que davam vista à praia para pensar no porquê de tudo. Olhou para o mar. No horizonte, avistou navios distantes soltando fumaças que mais pareciam sinais. Tentou interpretá-las, mas não logrou êxito. E, então, mudou o foco. Viu que não havia sequer um pássaro no céu, a não ser aviões, também esfumaçantes.

Voltou o cenho para a direção de sua vila e observou uma fumaça densa, tão possuída de preto que trazia a impressão de ser impenetrável. Preocupado com toda essa anormalidade, Floyd se levantou. Deixou a tristeza que aparentemente o abatia, e seguiu firme, embora um pouco receoso, na trilha que o traria de volta para casa.

Sentiu calor ao se aproximar do seu lar, mas não era o calor humano que ansiava. Tudo estava pegando fogo. Desesperado, procurou fazer algo. Consumido pelo medo ficou hirto. E chorou. Chamou por sua mãe. Queria um aconchego. Uma palavra sincera e um afago no cabelo. Queria um verbo que lhe trouxesse a calma, que não veio. Ouviu, isso sim, o esbraseamento da madeira das casas. Ouviu até o silêncio.

O céu, nessa altura, já não estava mais da cor do anil. Era de um plúmbeo que lembrava a morte. Floyd se sentou no chão. Não sabia o que fazer. Nem sabia direito o que era morrer. Foi quando avistou um pedaço de ferro e imaginou uma espada, viu uma tampa de panela e a transformou num escudo. De repente, estava pronto para lutar.

Mais confiante, se deixou invadir por um sentimento de coragem. Havia nascido de novo. Os pulmões respiravam mais vigorosos. Andando de porta em porta, clamou por sobreviventes. Falou o nome dos seus amigos, conhecidos ou mesmo de qualquer pessoa que uma vez ouviu falar. Nada. Não achou nada. A chama continuava a se alastrar.

Apesar de tudo parecer igual, de tudo cheirar a queimado, identificou sua casa. O fogo nela havia dissipado.

- Há alguém aí fora?, arguiu Floyd.

Com um tapa na testa, observou que tinha se enganado. Ou não. O mundo que estava era onde não queria estar. Talvez o lar fosse o campo verde que procurou mais cedo. Só antes não percebera isso. Quiçá o lar fosse o seu lugar para se salvar de qualquer maldade. Não precisaria perdê-lo para perceber isso. Queria ter se perdido junto com ele.

Com os olhos em fúria, Floyd gritou. Entretanto, não houve ser vivo que o escutasse. Largou a espada pensada e o escudo de tampa de panela. Correu, mesmo sem saber para onde. Desejava se afastar.

Qual era o seu destino? Não havia. Nem se lembrava daonde viera. O seu passado já era cinza que corria bravia pelo vento.

E se tudo fosse uma ilusão? Como acordar de um sonho que não se quer sonhar? Não sabia.

O negativismo não lhe era peculiar, mas, no momento, havia se apoderado dele, com lamúrias tão intensas que murchariam as flores mais belas de cem jardins.

Era um ser entregue que não almejava continuar.

Um ser pensativo, aguardando somente as minhocas lhe consumirem a carne.

Naquela noite, um lobo uivou. Tambores tocaram. E foi até possível ver uma estrela no céu.

Nada que realmente importasse.

Conta a lenda que não há lenda a ser contada.

sábado, 11 de julho de 2009

O mundo perfeito

Quem dera o tango pudesse ser dançado na vitrola,
enquanto o amor fluia e se espalhava na atmosfera.
Quem dera toda rosa fosse perfumada e que beijos apaixonados fossem vistos das janelas.
Quem dera a noite de lua cheia estagnasse, para que os corações amados se olhassem sem ter medo do tempo passar.

Mãe

Mãe, você acha que esse céu sempre foi assim azul?
- Não, meu filho. Às vezes ele se tinge de cinza, enquanto brota água.
Ele se entristece e chora, mãe?
- Sim. Com o pouco valor que damos à Terra.
Pois a partir de hoje vou fazer uma campanha. Você me apóia?
- Sempre, meu filho, sempre.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Uma pausa para o Selo

Venho com o imenso prazer de divulgar esse Selo indicado pela Luiza (http://luizadefato.blogspot.com/).
E agradecer por esse reconhecimento.
A responsabilidade de manter um bom nível (?) só aumenta.
E assim vamos seguindo...

Para não enrolar mais, eis o selo:



E agora algumas obrigações de ser "selado":

5 características minhas:

- Curioso
- Perfeccionista
- Egoísta
- Racional (?)
- Observador

Listar 5 desejos:

- Concluir o curso de direito.
- Passar num bom concurso.
- Continuar a ter o teco de criatividade.
- Ter um ford fusion (sim, é meu único sonho consumista haha).
- Lançar um livro.

Indicar 5 blogs:

- http://inspirar-poesia.blogspot.com/
- http://dixt.blogspot.com/
- http://espelhoinverso.blogspot.com/
- http://vohas.blogspot.com/
- http://doodleordie.blogspot.com/

Pronto, agora encerro por aqui.
Um abraço para todos! :)

O Beijo

No silêncio do olhar uma expectativa.
Coração vibrante e forte por um momento tênue e sincero.
O mundo apaga,
enquanto o vermelho da paixão invade os áridos campos do coração.

A ampulheta

Perdi a areia do tempo,

e a ampulheta se entristeceu,
pensando como viveria os dias sem contar cada grão.

Provavelmente morreria de amargura, pois não tem outra função.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Desumanizar

Hoje me desprendi do ódio.
Perdi-me do rancor e da tristeza.
Chutei para longe a avareza.


Como consequência, deixei de ser humano...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Comando

Há uma velha lenda, de uma cavaleiro sem medo no coração.
Enfrenta os inimigos, com olhos inundados de emoção.
Não queda, nem imagina se ver quedar.
Pois ser que pensa em perder, somente perderá.
Na sua mente, a vitória persiste, enquanto o derrotado assiste a marcha vitoriosa de um guerreiro que logrou.

terça-feira, 7 de julho de 2009

A dança

A dança das folhas não é só no outono.
É em cada desabrochar, insano.
Sentido sem sentido que nos falta sentir.
Reproduzir?
Sonetos, canções, poesias sem qualquer noção.
Adiante, até o ponto final inconstante que parece uma interrogação.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

REnascer

Parem.
Reparem.
O belo espetáculo da vida está para acontecer.
Vejam a flor desabrochar ao alvorecer.
Sintam a esperança nascer com os primeiros raios de sol.
Só a vida nova propicia sentimento novo.

Pensamento

Às vezes temos um estalo e as coisas acabam ganhando tonalidades que não existem na aquarela da vida.
Resta sabermos aproveitar o momento e tornar o quadro mais belo,
antes que o devaneio se esvaia na lacuna do inconsciente.

domingo, 5 de julho de 2009

Desventura?

Qual o prato do dia hoje?
- Um pouco de ira.
Não estou irascível. Traga-me um gole de euforia.
- Não temos.
Que tal uma dose de furor?
- Aquele último do canto comprou tudo o que tinhamos.

Sacando o revólver, o homem se levantou e foi até o sujeito que se embriagava de glória. E atirou.

- Mais um cliente infeliz.

sábado, 4 de julho de 2009

Guerreiro

Porque toda queda significa um aprendizado.
Porque todo aprendizado nos torna mais sábios.
Resta pegar a espada e apontar para o norte.
Guerreiros derrotados não têm história para contar.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Retirante

Não adiantar olhar para trás e querer voltar.
A terra que era sentida a cada pisar está distante.
Na mente a lembrança do que resta.
O doce sorriso da infância que se deixou passar.
Agora é o horizonte incerto.
E o dia que passa lento.
A locomotiva só pára de soltar fumaça quando o destino chegar.

Poltrona

Estalo os dedos, mas a luz não acende. Provavelmente acabou a bateria do sensor de som. Preço caro que pagamos por essas modernidades.
Devo levantar-me e apertar o interruptor, mas não quero. Deixe a escuridão vir e ganhar cada espaço dessa sala até então clarividente. Deixe o silêncio tomar conta, enquanto o pretume usurpa o último raio de sol.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Tiro

Eu coaduno com qualquer doce ilusão.
Sou um trapo preso à paixão,
que não consegue amar sem se destruir.
Quem dera o marasmo sumisse com a lufada.
Quem dera o amanhã não ficasse nublado durante o entardecer.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A palavra

Deixe a palavra passar com seu ímpeto inabalável, que constroi ou destroi tudo em um segundo. Deixe-a seguir e não peça que ela volte.
Não adianta jurá-la de morte, pois a palavra não morre, só fica, nem que seja em outro lugar.
Quem dera eu pudesse vencê-la, mas a palavra me consome a vida inteira,
nesse misto de tristeza e alegria,
poesia que eu faço para me libertar.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Anoitecer

E o céu sentou,
pintou-se de dourado,
enquanto a noite,
na sua escuridão enigmática e profunda,
se aproximava.

Houve o cotejo.
Houve o enlace.
Houve um bailar que poucos olhos atentos puderam presenciar.

No fim caiu o dia.
E a lua, estrela da festa, subiu ao palco para se apresentar.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Devaneio de um divagador

Eu deixei voar.
Eu deixei-me voar.
E, de repente, naquele canto não havia mais nada.

Nonsense

- Mas você disse que não ia chover.
Eu não disse, apenas não vi nenhuma nuvem no céu.
- E de onde veio esta enorme massa cinzenta?
De dentro da sua cabeça.
- Está me falando que tudo isso é imaginação?
Sim. E digo mais: nem você é real.
- Então o que somos?
Partículas do pó do espaço.

domingo, 28 de junho de 2009

Olho Mágico



Pelo olho mágico eu vi um universo numa caixa de música.
Era tão pequeno que eu podia guardá-lo no bolso.
Por alguns segundos me senti Deus,
e flutuei.

Desprendi-me do finito.
Esqueci-me de qualquer mito,
pois achava que naquele momento o mito era eu.

Pela primeira vez eu não tive medo.
Livrei-me do desassossego.
E com meu raio aterrador,
mirei a rotina...

A campainha toca enquanto eu abro os olhos, devagar.
Será que foi só um sonho?


sábado, 27 de junho de 2009

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ao mito

Era o mito.
Condenado e aplaudido.
Muitas vezes incompreendido.
Tido como vencido,
mas não.
Seu legado persiste.
Seu timbre ainda sustenta as canções em um certo infinito.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O rei

Em silêncio, o rei levantou do trono. Desceu o pedestal, devagar. Não havia ninguém para aclamá-lo. Seu reino nem sequer existia, pois estava consumido pela peste. Lá, apenas o ar vicioso e lúgubre, que o convidava a todo momento para se juntar ao cadafalso.
Da janela mais alta viu que lá fora as bandeiras velhas e rasgadas não sopravam com o vento. O chão morto e rachado pedia pela água das nuvens, que muito embora sincero o pedido fosse, não se precipitavam por tal lugar. As árvores não tinham frutos, na verdade, não poderiam mais nem ser chamadas de árvores.

Cabisbaixo, e com um olhar perdido, o rei suspirou. Com alguns passos rápidos saltou a janela. Fechou os olhos. Quando abriu estava voando. Nas mãos tinha asas. Naquele momento ele aprendeu a rasgar o pretume. Surgiu o anil e a lágrima. Diz o fim da história que o verde brotou em seguida. No horizonte, as demais cores. Nenhum pote de ouro.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Norteio

O céu está escuro.
Mas toda nuvem é passageira, porque vai embora com o vento para enegrecer qualquer outro lugar.
Fica a lama da chuva.
Lama que vira barro.
Barro que vira trabalho.
Trabalho que faz o coração ficar forte.
Quem é forte, aponta o norte sem titubear...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Tecelão de sonhos

O ponto, a linha e o tecelão de sonhos em mais um dia de trabalho.
Traça o traçado sem régua. Erra e volta.
Suspira.
Recomeça.
Passeia na peça que é a vida comum.
Desconcentra pelo barulho incessante das gaivotas em debandada.
E acorda, para mais uma vez dormir.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Cheque-Mate

- Cheque!
-
A sala vazia ou o jogo?
- Cheque, só cheque. Pare de enrolar e mova sua peça!
- Eu não me importo com o tempo.
- Cara, é só uma partida de xadrez.
- Não é novamente a vida com seus encantos?
- São plásticos, não têm vida.
- Se eu porventura derrubar esse seu maligno cavalo, tenha consciência de que ele não levanta mais.

- Apenas faça!
- Não estou bem certo disso...
- Mate-o!
- Eu não quero!
- Mate-o! Mate-o! Defenda a sua honra!
- Que honra, meu cupincha?
- Jogue isso e acabe a história!
- E se eu simplesmente não quiser?
- Querer e poder não influenciam aqui.
- Quem disse que aqui você manda?

- E se não for, que diferença faz? Desiste de jogar?
- Nem de viver.
- Pelo menos o seu relógio está em contagem regressiva.
- E agora?
- Agora você perde.


Cheque-mate.


domingo, 21 de junho de 2009

Ensimesmado

Faça a dança do fogo.
E sopre para ver se espalha.
Devaste tudo e sorria seu riso amarelo e podre.

Eu sei qual é seu nome.
Sei que ninguém o pronuncia.
Mas eu não tenho medo.
Eu nunca tive medo.

Antes do sol surgir,
Observarei a chama causada.
E rompante, moverei minha capa,
para desaparecer no infinito.

Eu voltarei.
Eu sempre volto.
Acompanharei seu malogro antes do último toque do piano da sala negra e serena.

Só assim a paz.
Branca como a nuvem no céu inebriante.
Sossego que o mundo espera.
O mundo dos meus eus.

sábado, 20 de junho de 2009

As horas

Tic-tac.
Três minutos para eu ir embora.
Tic-tac.
O relógio mais uma vez inimigo.
Tic-tac.
Eu sem nenhum papel para pelo menos fingir fazer algo.
Tic-tac.
Dói nos nervos essa espera.
Tic-tac.
Será que os outros estão realmente normais ou apenas fingindo?
Tic-tac.
E agora tenho sede.
Tic-tac.
Levanto-me devagar para ir à jarra d'água, na esperança de ganhar qualquer segundo a mais.
Tic-tac.
Volto e ainda faltam dois minutos.
Tic-tac.
Enervo-me.
Tic-tac.
Olho para o teto, nunca tinha tinha reparado que ele era branco.
Tic-tac.
E o tempo não passa.
Tic-tac.

- Alguém por favor retire a bateria desse monstro de números!

A criação

Eu aprendi outrora que o sábio sabiá prefere as manhãs para entoar seu canto.
Isso, aposto eu, não surgiu por encanto.
Primeiro o vôo,
depois o pranto.
A melodia doce que se não reproduz em outro ponto.
Tão sublime que até o tempo pára para escutar.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A cura?

Pega a cadeira e senta. Escuta minha história sem glória alguma. Se antes contra a multidão eu nadava, hoje me aproximo dela, tornando-me o bestunto que combati outrora. Quem dera poder falar de vitórias, mas acumulo no peito uma série de malogros e revoluções perdidas. A flâmula apagou-se. E o deserto roubou a água doce que nunca mais bebi.
Se antes eu falava nunca, hoje não falo, só escuto. Acompanho o assobio perdido do vento, sem intento a perseguir.
Quero voltar a sentir o brio e o furor que me faziam sorrir. Digladiar sem o medo da morte. Perder-me nas lembranças dos eternos amanhãs que anoiteceram no meu último penar.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Agonia

- Me falta.

O quê?

- Me faz falta.

Por favor diga logo o quê!

- Me faz tanta falta.

Não quero mais saber.

- Me faz tanta falta o seu sorrir...


E a pessoa do espelho partiu, sem olhar para trás.
Nada mais se ouviu...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Palhaço

Chega.
Hoje vou vestir a máscara da alegria e tornar alegre o dia de alguém que precise sustentar um sorriso para se superar.
Hoje só vai ter confete e piruetas no ar.
Doces caindo das nuvens de algodão doce.
E um gosto de sonho pairando no ambiente.
Atenção!
Eu vou realizar uma cambalhota no centro do palco.
E apagarei as luzes após os aplausos...

Mas amanhã, após o amarelo do sol arrebentar o azul do céu,
estarei de volta,
cantando meu cordel.
perto da rua sem fim,
esquina com o infinito.
Imprimindo com rock ou grito,
o dia que a chuva ousou não cair.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Saracoteio

Vamos acompanhar o homem de guitarra no show.
Vamos cantar e esquecer da vida a cada nota da pauta.
Brincar e rodar feito bússola sem norte.
Pode ser que venha a sorte.
E mesmo que não venha, não importa.
O momento, o fragmento de um momento.
Um sorriso eterno.
É o que busco e ponto.

O mundo e o coração...

Ontem me pediram um mundo. Em troca ofereci um coração. Meio amargo, é sabido. Empedernido, graças à falta de chuva e vento. Nunca mais vi orvalho na grama, nem o canto do sabiá que me ensinava a cantar pelas manhãs.
Quem dera aceitasse a minha oferta...
O outro dia seria euforia. Os sorrisos mais sinceros, da mais pura e fraterna alegria.
Quem dera não fosse sonho vestido de ilusão. Uma singela canção sem melodia.
Quem dera fosse magia.
Quem dera fosse magia...

sábado, 13 de junho de 2009

Lágrima

Eu lembro do dia que liguei para uma puta e ela me chamou de amor. Eu precisava daquilo. De modo que criei o hábito de combinar preços e horários, compulsivamente, só para no fim receber a tão calorosa palavra...
Era o combustível que eu necessitava.
O que me faltava era justamente o que me deixava em torpor.
Passei a ter a sensação de que era amado, sem ser.
A doce ilusão que vivemos constantemente, mas de forma melindrosa e sabida.
Nunca a vi.
Nunca pretendo vê-la.
Só a fala me basta e me consome.
Me distrai quando penso estar num poço vazio e frio.
E assim vou me perdendo.
Distanciando-me do calor da presença.
Apagando a chama com a chuva da nuvem de algodão,
que acreditara eu em sonhos ser comestível.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Luz

A última pessoa saiu sem bater a porta, mas tratou de apagar a luz.
Não houve estalar de dedos ou mágica que desse jeito.
Ele estava só, apesar da presença insinuante do futuro incerto.
Queria poder falar, mas era sabido que não teria uma alma viva (ou morta) que o ouvisse nessa hora.
Resta esperar o amanhecer profetizado nas cartas.
Resta esperar a lufada que empurre o barco para qualquer outro lugar...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Pecado

Eu sou o pecado.
A carne podre.
Miro, inconsequente, a próxima pedra.
E acerto.
Palmas.
Desconcertos.
Aquele violino velho desafinou de novo.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Antes

Os sentimentos do comum são incomuns demais até.
Sublimes que beiram o sempiterno.
Austero.
Pois tudo o que o tempo leva, o tempo toma.
E não traz mais...

Que a pedra ricocheteie na água
e não afunde.
Que dê a volta no mundo, antes que seja tarde...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Romance

Beijo a flor que o beija-flor não ousou encostar,
porque é minha.
Doce som ao luar,
que a lua assistiu desvanecer com o silêncio do olhar...
Menina...

domingo, 7 de junho de 2009

Pedinte

A minha casa é a cidade inteira, - falou o mendigo poeta.
O meu teto é o céu que se pinta, muitas vezes, de estrelas. Eu guardo um sonho em cada uma delas. As mais reluzentes são os grandes projetos. Eu espero, sinceramente, realizá-los algum dia.
O meu chão é a rua ao lado da sinfonia inconstante das buzinas dos carros. É o mesmo solo frio que apara os meus sentimentos na hora que o sono vem.
Acordo e nunca estou no mesmo lugar. Entretanto, o labirinto das avenidas não é mais mistério. É enigma para os demais, apenas.
As cicatrizes que carrego nas diversas partes do corpo são indeléveis. Principalmente as que trago no peito. Afinal, pele não é papel. Os traços não somem com borracha.
Escrevo com giz no concreto. Torço para o vento não levar o pó. Se for para levar algo, que me leve dessa vida medíocre e me mostre algo novo.
A moeda que me dão não serve mais.
A manhã, a tarde, a madrugada.
O silêncio.
Depois dos passos apressados, a calmaria.
A elucubração ferina.
A solidão.
Dor renitente que amortiza o coração.
Lamento cantado em tango que ninguém ouve.
Eu quero alguém que me chame para dançar...

sábado, 6 de junho de 2009

Sem título

Sinto o zéfiro.
Meu olhar embaça sem os óculos.
E o mundo turvo me incomoda.
Não vejo detalhes, nem cores.
Apenas quadros com pingos de chuva.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Prólogo

Só consegue escrever o que mata? Na carne, na unha escarnecida. A jocosidade sumiu nos labirintos do sorriso que não volta.
Diga algo engraçado e faça a platéia muda rir.
Os aplausos tratarão de vir logo em seguida.
Daí então você acorda.