segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ao ocaso, com orgulho...

Sorrisos escassos,
perdidos.
Nesta terra não há esperança,
nem luta.
O silêncio é entrecortado somente pelos gritos dos corvos,
sorturnos e sinceros, vigilantes.
Há muito não se vê conchavos.
Nem reunião familiar.
É uma plenitude do nada.
Uma terra amargada.
Controlada pela arte do não fazer.
Até o sol pede licença para amanhecer.
Mas a luz não alcança todos.
Na escuridão, olhares soberanos.
Reinam os bichos que se escondem nas cascas de caramujo.
O futuro é a obliteração.
Uma história,
de um livro que certamente será engolido pelas traças.

domingo, 30 de agosto de 2009

Será?

Será uma estrela cadente?
- Quem sabe.
Faça um pedido!
- Não quero.
É uma única oportunidade.
- Já perdi tantas coisas que foram únicas.
Peça-as de volta.
- Acredita nessa besteira?
Se eu não acreditasse nesse tipo de inutilidade, que graça seria viver?

sábado, 29 de agosto de 2009

Lorenzinni e a Semente do Devaneio

Há dias olho o lugar que plantei aquela semente. Nada brota daquele chão. Às vezes, vejo apenas uma flor morta, ressequida, para lembrar que naquele ambiente já houve vida. Passeio mais um pouco e sinto o sorriso dos outros, empedernido como o tempo, pois há muito também não existe o cair da noite por aqui.

Volto, vislumbro meu quarto. Deito e me deixo sonhar. Acordo e não estou mais em casa. Pensando que se trata da continuidade do sonho, me perco, e não distingo se o que meus olhos vêem é real ou abstrato. Nada parece certo. Mas ao mesmo tempo me questiono se não parecera certo antes.

Do lado de fora, o céu vestido de laranja. E o sol, no horizonte que embeleza o quadro, desce lentamente, quase que pedindo aplausos. Onde havia plantado a semente, uma casa. Curioso, fui perscrutar aquilo, imaginando que tinham me vendido a semente errada.

Na entrada, encontro uma porta sem trinco. Empurro e me impressiono pelo fato de o ambiente interno não ter nenhum odor, apesar de as madeiras velhas, que formam a parede, darem ensejo a um pensamento contrário. Não existem móveis. Não existe nada. Apenas o silêncio. Lá fora já é noite.

Penso em sair para admirar as estrelas, quando escuto uma voz embargada dizer:

- Deixa o vento entrar.

Era uma senhora, sentada numa cadeira de balanço no canto da casa. Assustado por não ter notado sua presença antes, realizei o seu pedido com muita pressa, abrindo a janela incrustada que estava ao meu lado. Correu o vento. E com passos largos deixei a casa e nem sequer olhei para as estrelas. Tranquei-me em meu quarto. E o sono, mais uma vez, me levou.

Senti o ar penetrar pelo meu nariz e acordei, julgando estranho o sonho. Levantei-me e fui à varanda, como sempre fazia. Passei da porta e reparei, sem assombro, o branco que fez desaparecer toda a paisagem.

- Deixa o vento entrar, disse a mesma velha senhora, provavelmente sentada na mesma cadeira de balanço.

Procurando saber a origem da voz, olhei para os lados. Foi então que percebi que o mundo inteiro estava pintado. Sem ter outra opção, resolvi andar. Andei tanto que minhas pernas cansaram. Andei e não pareci sair do lugar. Desencorajado senti o calor da solidão. Sentei-me abruptamente, exausto. Ainda tive forças, entretanto, para perceber a presença de um objeto marrom, suspenso no ar. Julguei ser miragem, mas logo me convenci se tratar de uma janela.

- Deixa o vento entrar.

Sem pensar em que proporções aquele devaneio havia atingido, recobrei a força e marchei rumo ao meu intento, que poderia ser o último. A saída ou a entrada para um mundo mais louco. Ou a volta para o meu mundo são. Ou que pelo menos eu julgava são.

Abri a janela e senti o assopro tenaz, e, aparentemente, reprimido do vento. Quase um assobio. Notas tortas que não traziam nenhuma musicalidade. Do espanto ao pranto. O branco continuava a pintar o outro lado.

Alguém para sambar e afastar a melancolia. Alguma esperança. Ou pelo menos a terra batida e seca para observar enquanto passa o tempo. Quem sabe a semente esteja enraizando agora em qualquer lugar. De tanto esperá-la, me perdi. E não há vento que cure ou que traga a nau que se deixou cair no abismo. Estou entregue aos bichos invisíveis, sedentos de idéias. Obliterando a cada piscar. Unindo-me ao branco, para quem sabe tentar sorrir.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Macambúzio

Pisei na flor que não te dei.
E no sulco dela que escorria pelo azulejo frio,
vi o sangue que perdi
e o tempo passado,
velho e peremptório.

A mão traz rugas
e o olhar não carrega mais nenhum sonho.
Empedernido o coração.
Calado.
Insensato.

Nem o brilho da aurora inspira.
Quiçá a nuvem cinzenta, que passa despretensiosa, faça chover,
para banhar as ruas e encher o rio.
Desaguar emoções.
E fazer nascer semente plantada,
muito embora esquecida.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Selo de ouro

Venho aqui mostrar um selo que recebi da nobre colega Milena, que tem o blog MilenaBuarque!




- Regras:

1. Exiba a imagem do selo “Blog de Ouro”.
2. Poste o link do blog de quem te indicou.
3. Indique 4 blogs de sua preferência.
4. Avise seus indicados.
5. Publique as regras.
6. Confira se os blogs indicados repassaram o selo.

- Características:
. Observador.
. Egoísta.
. Rabugento (quando quero haha).
. Perfeccionista.
. Sonhador.

- Blogs indicados:

http://dixt.blogspot.com/

http://inspirar-poesia.blogspot.com/

http://macaires.blogspot.com/

http://contrapto.blogspot.com
-
Selo postado!
Em breve nova postagem.
Obrigado Milena!
Um beijo!

Insanidade e seus amigos do além

- Falta-me o novo.
És velho.
- Se tu falas, acredito.
És empoeirado e tacanho.
- Te abomino.
Está despedaçado este teu coração que tenho à mão.
- Mas ainda bate.
Não escuto.
- Não importa, sei que bate.
Bate e quem é à porta?
- A alegria.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Palavreado

Palavras desarmam.
Alucinam.
Inspiram e assassinam.

Palavras.
Às vezes as mesmas.
Tão ermas.
Navegam sozinhas por tempos.
Conquistando terrenos
nem sempre amenos.

Palavras
têm o poder de ir contra o vento
sem precisar tornar.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sonharia um sonho assim?

Sonho de pedra.
Calcificado pelo tempo.
Sonho que pesa e vira martírio.
Utopia.
Melodia que não supera a primeira nota.
Dia que apaga sem o nascer do sol.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ira

Que as partículas de terra levantem e cheguem até o ar.
Que o chão seja consumido de lava.
Que as cinzas vulcânicas corrompam o anil.
E que nenhum ser sobreviva para contar a história, a não ser eu.

domingo, 23 de agosto de 2009

Azul

Criatividade me falta.
- Joga uma moeda para o ar.
Que influência isso trará?
- Olhará para o céu.
É, isso basta.

sábado, 22 de agosto de 2009

Cartola

O raio corta o céu plúmbeo. Grasna o corvo, que voa assustado com o trovão. Na planície resta um homem macambúzio, que carrega na mão um cachimbo que lança fumaça de um pretume soporífero. Os outros humanos jazem no chão, entregues aos sonhos mais profundos, mas nem por isso tênues.

Em cada ser prostrado, o pequeno homem taciturno põe uma espécie de mortalha e reza palavras inaudíveis. Anda novamente e se agacha, de modo que transparece naquela ação um rito. Não cansa por tal ato e não solta um único suspiro. É o seu destino. O pensamento o leva a crer nisso.

No crepúsculo, se depara com um cão de olhos tristes e silencia qualquer movimento. A partir desse ponto, se opera a troca de olhares. E o homem se rende, retirando a cartola e cumprimentando o cachorro, que só observa.

Daí então anoitece. Devaneio desvanece. E o escritor encerra com um ponto e nada mais.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Yellow

O soar do vento não é martírio.
Lírio que se desprega do solo e vai povoar a terra com seu brilho diáfano.
O bater de asas das aves faz música.
As nuvens dançam.
O sol abre um sorriso amarelo.
No centro do universo desabrocha uma flor.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Espera

A espera.
O navio que não chega.
O vento que não sopra.
O dia que não cai.
A felicidade que não sobra.

A espera.
Amarga e doce.

A espera.
Ilusão deletéria.
Voa o tempo e não nos recordamos mais nem o porquê.

Deserto

Nessa noite não há lua.
Em algum lugar soa um blues.
A nuvem que eu vejo é uma garatuja das mais tristes.
Ecos.
Poeiras voando pelas avenidas.
A cidade está só.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sonomundo

Modorra.
Olhos inermes.
Metralhadoras que nem ousam apontar para o vento.
O verbo silenciar que governa este reino,
onde não são baixados decretos e nem há necessidade de lei.
Veja o povo na rua,
deitado nas praças.
O alfabeto só possui a letra z.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Do pó ao pó

As coisas não se prestam mais ao sabor das novidades, até porque nada mais é novo. O vislumbre dos doces desvaneceu, coberto pela poeira das responsabilidades.
Se por um capricho sorrio, creio eu que é nuvem que mais cedo ou mais tarde será carregada pelo vento.
No silêncio, entrecortado apenas pelas badaladas intermitentes dos relógios, carrego a sina de planejar o próximo minuto, que tenho por mim será exatamente igual aos outros.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Escárnio

Silêncio.
O tenor vai entrar na sala.
Impávido como todos os outros que aqui passaram.
E a pança descomunal balouça, como se ela que estivesse para entoar o cântico.
Os olhares da platéia aguardam o momento.
O refletor apaga.

O apresentador anuncia gritando logo em seguida que faltou luz.

domingo, 16 de agosto de 2009

Ritmo

Dança.
Bate palma.
Esperança.
Segue a música e o passo.
Não erre o compasso,
ou a roda sai do traço.
Realidade abstrata,
esse mundo louco.
Pouco afeto e nem uma réstia de alento.
Quiçá ver a chuva beijar o solo me console,
pois já não há proeza que amole este peito aberto à espera do seu bem querer.

sábado, 15 de agosto de 2009

Avante

Meu cupincha, que prazer em revê-lo!
- Há quanto tempo, meu camarada! Digo o mesmo!
Ainda seguindo a foice e o martelo?
- Não me lembro.
E os ideais de Marx?
- Não me lembro.
Mas aposto que ainda carrega o clamor dos discursos de outrora.
- Não me lembro. Aliás, quem é você mesmo?

Solidão

E neste vazio eu amolo a ponta de faca com uma única pedra que me sobrou.
Rasgo o chão que parece terra, mas não há nada palatável para colher.
Rasgo o céu e busco beber o anil,
ou quem sabe encontrar alguma estrela errante que faça brilhar o caminho pintado com a ausência de cor.
Minha sina é viver pensando que sumi,
até o dia que o corvo grasnar,
e o sino replicar para a missa da meia-noite.

Dada

Vitrine.
Que venha
a torre.
Não pago à vista
a derrota,
nem gracejo.
Dadaismo?

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Cotejos

Descreva-se.
- É difícil.
Diga uma nota que prefere.
- Nem sei tocar música.
Responda algo.
- Vá para o inferno!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Nostalgia?

As boas lembranças trazidas pela nostalgia umedecem a minha alma.
E nascem flores.
E brotam frutos.
Revelam-se diamantes brutos.
Lapidados por bestas de um só olho.
Que enxergam mais do que eu.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Tanatos

E pela primeira vez ele teve medo da morte. Sentiu um calafrio e olhou desesperadamente para os lados. Não queria partir.
Ela teria mesmo a foice e o sorriso eterno que os sábios preconizavam? Seria mulher de poucas palavras, objetiva no que deveria ser feito. Ceifava a vida e cortava o vento, para numa distração, se unir às partículas de poeira que circundam o mundo inteiro.
O dia passou, triste. À noite, ele não se refugiou no escuro, como sempre fazia. Pernoitou com a luz acesa, buscando o outro lado da sala. E nada do bicho preto malvado apanhador da seiva vital.
Quando o sol amanheceu, estava cansado. Sorumbático pela depressão que se instalara graças ao pensamento que corria solto e pintava o quadro num tom tão negro e soturno, que não se podia ver o céu.
E foi assim que esmaeceu. Exânime pela própria consciência.


Toc

Toc-toc!
- Quem bate?
Acho que talvez o azar.
- Não obrigado, dessa vez vou deixar passar.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Ao morto

A vida é cheia de perde e ganha, meu amigo.
Até você que eu carregava junto ao peito, eu perdi.
Foram lutas e lutas, nem sempre ganhas.
Foram amarguras e sorrisos, sinceros ou não.
Amigo eu não esqueço.
Não pereço.
O caminho é longo, tortuoso e soturno.
Deixo o valor que você trouxe neste terreno fértil,
para que os meus descendentes possam cantar o mito que você foi.
Para que em qualquer dia perdido no horizonte, eu possa vir aqui, sabendo que no canto onde você se enterrou, estará imponente uma flor.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Poste

A luz do poste acende e apaga.
Acende.
Apaga.
Acende.
Apaga.
Apaga.
Acende.
Apaga.
Apaga.
Apaga.
Acende.
Apaga.
Apaga.
Apaga.
Apaga...

E assim acaba-se a história.

domingo, 9 de agosto de 2009

Passeio

Universo.
Não cabe num verso.
Quem sabe uma estrela, então.
Um enlevo.
Um saborear tranquilo do ar de uma noite que o céu é o limite.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

À bela solitária

Não canso de observar seu sorriso amarelo, envolto na escuridão imperscrutável.
Me inspira.
Me faz suspirar.
Para mim, você é contínuo mistério, muito embora não tenha olhar.
Mesmo se o vento teimar em empurrar uma nuvem para não a deixar brilhar, fico no aguardo, esperando o bom senso de alguém para a descortinar.
O interregno desse tempo é tenso.
Súplica, para que a deixem ao palco voltar.
Onde é princesa, dama, rainha, cujo o rei maior não consegue encontrar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dreamweaver

Depois de um suspiro, rabiscou mais um sonho e o pôs na caixa.
Sorriu, pois achou que satisfaria a próxima pessoa felizarda.
Agora já era a hora de ir embora.
Então se levantou. Sentiu o peso dos anos nas pernas. Havia parado de contar aos 120.
Abriu a porta da casa e se deixou voar, juntando-se ao anil, sem deixar vestígios.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Criança

Eu sou pensamento imaginado na infância.
Malgrado não tenha me tornado herói, nem vilão.
Sou eterna criança.
A navegar no meu navio invisível pelas nuvens sem fim.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Divagar é preciso

Hoje resolvi acompanhar minha sombra.
A imitei a cada passo dado.
Andei no mar, da maneira mais sublime que eu poderia imaginar.
Até que caí gargalhando no chão, desvanecendo enquanto a noite se vestia,
sombria.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Três pontos

...E no auge de seu discurso, o ditador resolveu parafrasear Julio Cæsar, sem sucesso:

Eu venci porque vim, mas não sei o que vi aqui...

No dia seguinte houve uma revolução...

domingo, 2 de agosto de 2009

Relato

Hoje observei o relógio de ponteiro da cozinha. Quanto tempo levou eu não sei, mas tive a impressão e uma certa idéia de valoração do passado, presente e futuro.
Quantos momentos deixamos passar e escapar junto com a areia da ampulheta.
Um minuto passou.
Talvez dois.
E o que eu fiz para o mundo?
Sentei e refleti este imenso infinito que é meu.
Horas passam.
Divago.
Logo existo?