No mar,
ouço um chamado.
Rema, marinheiro, rema.
Vento, leva-me à terra, que ela me chama.
Navego com afinco,
apesar de faminto.
O mar não tem peixe.
Só vidas perdidas, esquecidas.
Dou uma risada contida,
mas continuo.
A terra não pode estar distante,
sou só eu e meu pensamento falante.
Esta imensidão de nada é o infinito.
É água que não acaba.
É um poço.
De esperanças, ou lembranças?
De pedido, quiçá.
Jogue uma moeda e deseje estar longe.
Distante de qualquer desafio.
Vazio de qualquer sentimento.
Rema, marinheiro, rema.
O vento não te ajuda.
Divaga, a todo momento,
buscando os braços de quem o acolhe.
Vida, marinheiro, viva.
Penso na glória que nunca irei alcançar.
Nem consigo ancorar este coração.
Só vivo de emoção, passageira.
Não queira, marinheiro, não se entregue.
Abra o leque.
E veja onde a lufada dá.
Aponte o dedo em riste, que a embarcação irá para lá.
Você comanda, marinheiro.
O oceano é fera domável, apesar de ferino.
Olho os pássaros no arrimo do cais.
Vê, mar, tu não me vences mais.
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