domingo, 12 de julho de 2009

Som e fúria

O pequeno Floyd se afastou da vila. Procurou os campos verdes que davam vista à praia para pensar no porquê de tudo. Olhou para o mar. No horizonte, avistou navios distantes soltando fumaças que mais pareciam sinais. Tentou interpretá-las, mas não logrou êxito. E, então, mudou o foco. Viu que não havia sequer um pássaro no céu, a não ser aviões, também esfumaçantes.

Voltou o cenho para a direção de sua vila e observou uma fumaça densa, tão possuída de preto que trazia a impressão de ser impenetrável. Preocupado com toda essa anormalidade, Floyd se levantou. Deixou a tristeza que aparentemente o abatia, e seguiu firme, embora um pouco receoso, na trilha que o traria de volta para casa.

Sentiu calor ao se aproximar do seu lar, mas não era o calor humano que ansiava. Tudo estava pegando fogo. Desesperado, procurou fazer algo. Consumido pelo medo ficou hirto. E chorou. Chamou por sua mãe. Queria um aconchego. Uma palavra sincera e um afago no cabelo. Queria um verbo que lhe trouxesse a calma, que não veio. Ouviu, isso sim, o esbraseamento da madeira das casas. Ouviu até o silêncio.

O céu, nessa altura, já não estava mais da cor do anil. Era de um plúmbeo que lembrava a morte. Floyd se sentou no chão. Não sabia o que fazer. Nem sabia direito o que era morrer. Foi quando avistou um pedaço de ferro e imaginou uma espada, viu uma tampa de panela e a transformou num escudo. De repente, estava pronto para lutar.

Mais confiante, se deixou invadir por um sentimento de coragem. Havia nascido de novo. Os pulmões respiravam mais vigorosos. Andando de porta em porta, clamou por sobreviventes. Falou o nome dos seus amigos, conhecidos ou mesmo de qualquer pessoa que uma vez ouviu falar. Nada. Não achou nada. A chama continuava a se alastrar.

Apesar de tudo parecer igual, de tudo cheirar a queimado, identificou sua casa. O fogo nela havia dissipado.

- Há alguém aí fora?, arguiu Floyd.

Com um tapa na testa, observou que tinha se enganado. Ou não. O mundo que estava era onde não queria estar. Talvez o lar fosse o campo verde que procurou mais cedo. Só antes não percebera isso. Quiçá o lar fosse o seu lugar para se salvar de qualquer maldade. Não precisaria perdê-lo para perceber isso. Queria ter se perdido junto com ele.

Com os olhos em fúria, Floyd gritou. Entretanto, não houve ser vivo que o escutasse. Largou a espada pensada e o escudo de tampa de panela. Correu, mesmo sem saber para onde. Desejava se afastar.

Qual era o seu destino? Não havia. Nem se lembrava daonde viera. O seu passado já era cinza que corria bravia pelo vento.

E se tudo fosse uma ilusão? Como acordar de um sonho que não se quer sonhar? Não sabia.

O negativismo não lhe era peculiar, mas, no momento, havia se apoderado dele, com lamúrias tão intensas que murchariam as flores mais belas de cem jardins.

Era um ser entregue que não almejava continuar.

Um ser pensativo, aguardando somente as minhocas lhe consumirem a carne.

Naquela noite, um lobo uivou. Tambores tocaram. E foi até possível ver uma estrela no céu.

Nada que realmente importasse.

Conta a lenda que não há lenda a ser contada.

6 comentários:

  1. Que post inquietante.
    É muito bom ler textos assim, que não acabam quando lemos a última linha...
    Pelo contrário eles ficam e agitam pensamentos e acalmam olhares.
    Muito bom, como sempre.

    Beijo*

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  2. Eu precisava escrever isso.
    É uma singela homenagem a uma das maiores bandas de todos os tempos. :)
    Um beijo, Luiza!
    Obrigado!

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  3. Adorei Mracin! Tem uam frase ali que parece que foi escrita sob medida para mim tbm... Aliás, os últimos parágrafos tbm...
    Escrevendo cada dia melhor, me surpreende cada vez mais!
    beijos =**

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  4. Oba, que bom que gostou, Dêdê!
    :D
    Obrigadão!
    Um beijo!

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  5. ^^

    bem, devo dizer meus pesames ao garoto... é dificil não saber se está se vivendo um sonho ou a realidade... no momento eu gostaria de acordar dessa vida que estou vivendo e descobrir que passou ou fazer aquele meu mundo virar real sabe...

    ei i só pra saber essa omenagem é a que banda???

    Beijos... Luna!

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  6. A banda é Pink Floyd.
    E sim, existem sonhos que não sabemos parar de sonhar.
    Sonho ou pesadelo?
    :)

    Um beijo, Luna!

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