sábado, 5 de dezembro de 2009

Acaso

Dê-me um tiro no peito.
- Nunca!
Eu já passo dos 80. Tenha piedade!
- Você possui mais vigor que eu!
Eu nem lembro de ontem. Minha memória é falha. Respeite meu momento de consciência agora. Amanhã, já não a devo ter mais.
- Onde está a arma?
No armário.
- Ok. Aguarde.

...

- Pronto, faça você!
O quê?
- Nada. Estava mostrando sua arma de guerra.
Eu não me recordo, cupincha. Ouve o sinal?
- Sim.
Acho que meu trem vai partir.
- Acredito que sim.
Eu já devo ir. Vou me levantar sem me despedir.
- Sentirei saudades, avô.


E como um pássaro, ergueu os braços e vôo pela janela...

5 comentários:

  1. Todos já desejamos morrer alguma vez na vida.
    Um avô pedindo ao neto pra morrer?
    Que contexto assarador!

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  2. a saudade da morte é acessa em nosso pensar... lúcido e voraz... abs meu caro.

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  3. Viajei no seu texto.
    Mesmo.

    Uma parte da alma, já idosa que, depois de tanta coisa vista, quer ir embora. E aquela outra parte...jovem, inocente, que é deixada pra trás. Pra continuar sonhando.

    Bom..entendi assim. Viajei. Mas achei lindo mesmo, rs.


    beijos beijos beijos

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  4. Entendi tudo do lado invertido. Situação ao contrário.
    abs

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  5. Entendi um monte de coisa que eu nem sei passar aqui e deve ser tudo viagem da minha cabeça mas ainda sim eu adorei esse texto.

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