segunda-feira, 1 de junho de 2009

Desventuras II

Me falta inspiração, irmão.

- Eu percebi. Por que não pára de escrever?

Escrever é minha vida, minha razão.

- E o que mais? Já viu o dia hoje?

Como dia? Está noite lá fora.

- Por isso não escreve mais. Seus olhos estão cobertos de pretume.

E o que isso afeta?

- O bom poeta precisa observar.

- Se mantêm os olhos fechados, o que enxerga?

Óbvio que é o nada.

- Viu, já deu ensejo à poesia...

4 comentários:

  1. Uma vez eu conversava com um músico.
    A cegueira fazia com que a sua música fosse, especialmente mágica, envolvente, emocionante.

    Alguma coisa diferente naquela melodia me tocava a alma, calava-me em alumbramento, sabe? E eu perguntei a ele, como ele conseguia falar da natureza, do mundo, do cosmo, da alma humana com tamanha verdade e beleza, com tanta intensidade.
    Ele me disse e assim também ocorre comigo, os olhos que precisam estar abertos, atentos a ver e sentir, são os olhos da alma.

    O meu amigo me disse que ao contrário do que as pessoas pensavam, ter os olhos corporais fechados, facilitava a conexão com o universo.

    Ontem a noite, ainda estava escuro e, com olhos fechados, eu antevi o dia de hoje. Não eu, minha alma fugidia.

    beijos,
    Mai

    ResponderExcluir
  2. O que seria do poeta e da poesia sem as desventuras que estimulam a sua existência?! Num mundo só de felicidade a poesia seria apenas uma menina tola de sorriso fútil...

    ResponderExcluir
  3. é verdade.
    fechar os olhos é uma ótima forma de conexão com a criatividade.

    ResponderExcluir