sábado, 13 de junho de 2009

Lágrima

Eu lembro do dia que liguei para uma puta e ela me chamou de amor. Eu precisava daquilo. De modo que criei o hábito de combinar preços e horários, compulsivamente, só para no fim receber a tão calorosa palavra...
Era o combustível que eu necessitava.
O que me faltava era justamente o que me deixava em torpor.
Passei a ter a sensação de que era amado, sem ser.
A doce ilusão que vivemos constantemente, mas de forma melindrosa e sabida.
Nunca a vi.
Nunca pretendo vê-la.
Só a fala me basta e me consome.
Me distrai quando penso estar num poço vazio e frio.
E assim vou me perdendo.
Distanciando-me do calor da presença.
Apagando a chama com a chuva da nuvem de algodão,
que acreditara eu em sonhos ser comestível.

7 comentários:

  1. hoje, li algo mais ou menos assim:
    'com o advento das tecnologias, o homem se distancia da convivência em comunidade, onde aprenderia a ser tolerante, e passa a se internalizar, aprendendo a ser individual e ignorante'.

    eu tendo a crer que estamos todos doentes.

    eu tendo a crer que, por mais doloroso que seja, ainda prefiro o mundo real.

    Vandré, eu não tenho nem palavras, você me tocou bastante com essa postagem. Faz-me lembrar as pessoas que vivem suas solidões adquiridas, a quem eu gostaria de ajudar, mas não me permitem.

    Belo.. não, belíssimo!

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  2. Excelente texto!
    Eu poderia escrever aqui parte da teoria psicanalista que, em Freud vai falar do Princípio do Prazer e Princípio da Realidade.
    Ele concebeu mitos ligados ao amor - EROS que seria o amor maduro do homem e da mulher que sabem o quanto re realidade subjaz na relação erotizada.
    E o princípio do Prazer - trouxe o cupido que é o amor infantilizado porque ainda tem as ilusões.
    .
    Depois veio Sartre e seu pensamento fenomenológico/existencialista e rasga a dissimulação do que o homem e a mulher, de fato desejam que o outro pensem querer. Assim, o que este teu texto demonstra é que sabias que não eras amado mas querias ouvir que eras.

    Muito, muito bom.
    Bravo!Bravo!
    Carinho, Mai

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  3. O amor de hoje tem se comprovado uma invencionice descabida.
    Aliás, a palavra amor há muito perdeu o sentido.
    Vejam nesse caso.
    Apenas o falar o conforta.

    É simples, cruel e fatídico.

    É a vida, plena e crua.

    É a morte de todos os sentidos.

    Um beijo, Sandra e Mai, obrigado pelos comentários!

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  4. eu não deixo de me chocar com esse seu maravilhoso texto.
    voltei só pra ler de novo, acredita?
    me soa como uma evolução em teus textos, que inspiração andas tendo tanto, menino?
    quero beber desta fonte também.

    bjK Vandré!

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  5. Na verdade nem sei.
    Hehehe.
    Foi um pensamento que tive, como os outros.
    Talvez o desenvolvimento do texto tenha ficado melhor que se fosse em poesia. ;)

    Um beijo e obrigado mais uma vez pelo comentário!

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  6. cada dia que passa eu gosto mais de sua mente. Texto maravilhoso, e bem verdadeiro, diga-se de passagem.

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