terça-feira, 27 de outubro de 2009

Relicário

Chovia. No meio da madrugada, corria um homem sem rumo. Carregava, além de suas roupas, um pequeno relicário. Não era vigário, nem possuía crença alguma, mas parou em frente a uma igreja. Lágrimas salgadas se juntaram à água que brotava do céu plúmbeo. Em sua cabeça, entretanto, nenhum pensamento.

A chuva incessante e nenhuma música. Nem pessoas na cidade. Melancolia exacerbada num quadro, pintado com os dedos de algum ser, inacabado.

- Eis nós que somos incompletos. - Falou o homem.
- Eis nós que nos entregamos às tentações e paixões do corpo.
- Eis nós que matamos, roubamos e gargalhamos ao longo da fogueira.
- Eu condeno a todos, inclusive a mim...

Relicário ao chão. Fotos, impressões, tintas diluídas colorindo ruas. Silêncio. Alvorecer. Passos longínquos. Cantoria dos pássaros. O sol e o confessionário.

4 comentários:

  1. Márcio, isso me lembrou um livro que estou tentando acabar de escrever que se chama "O conto dos 7 dias" e ele começa justamente com um rapaz correndo em direção a Igreja pra se consolar com o padre.

    Pena que comecei a uns 3 anos e não acabei ainda.

    Muito bom o que escreveu.
    abs

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  2. Eis nós que somos imperfeitos e culpados por nossos atos, nesses casos o relicário não faz milagre, mas serve de consolo na hora do desespero!

    Belíssimo texto!
    Beijo, Márcio!

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  3. Embora cético perante à tudo, ele ainda tinha resquícios de quem sabe ter alguma salvação...

    Muito bom...:)

    Bjo

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  4. Valeu, Daniel!
    Eu também tenho um livro.
    Quero concluí-lo logo!
    Um abraço!

    Marília!
    Um muito obrigado!
    E um beijo pra ti!

    Andrea!
    Céticos, às vezes apelamos. A lágrima rola.
    E só.
    Um beijo!

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