quarta-feira, 27 de maio de 2009

O reino IV - O recomeço

O crepúsculo invadiu a tarde.
A luz dourada banhou a terra verde.
A multidão havia escoado junto com a água da chuva.
No chão a máscara ensopada.

Os passos dados pelo executor arrependido restam empedernidos no chão.
O pensamento que fustiga sua mente correlaciona às pessoas mortas.
E realmente em cada pegada brota uma mão agonizante.

O reino dos mortos tem a porta perto do céu - pensa o homem que quase não pensa.
E continua andando.
Seu objetivo é o trono.
O carpete vermelho lhe espera.

Faz frio.
Muito frio.
O mármore da escada também está enregelado.

No topo, onde o rei exânime jaz,
o homem pega o cetro e a coroa
e discursa para uma platéia inexistente,
com a verborragia que não lhe é peculiar

- Eu corrompo os sonhos de quem viver, por causa de uma lei que não vi ninguém escrever. A partir de hoje, o amanhã será mudado. Esquecerei todo o passado. E quem se opor, que não se use do silêncio.

O anoitecer chega junto com o ponto final da sentença.
A sinfonia dos grilos inicia. O céu começa a ser pintado com algumas estrelas.
Não se ouve aplausos nem críticas.
Há apenas o brilho no olhar de quem parece ter uma grande conquista.

2 comentários:

  1. que beleza...
    'o recomeço'
    fico feliz que o carrasco não tenha optado pelo caminho da auto-piedade.
    ele escolheu.
    e fez tudo à sua maneira.
    e foi sincero consigo mesmo.
    sem aplausos, sem 'cheers ups'.
    agora ele reina sobre si mesmo.

    é o primeiro passo para cobrir sua própria falha, que é a de não pensar por si.

    lindo, 3x lindo.
    que triunfo!

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  2. Obrigado pelo comentário.
    Você, com seus questionamentos, acabou dando ensejo à continuação não planejada.
    :)
    UM beijo!

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