domingo, 24 de maio de 2009

O reino III - O fim

- Não tem pena, carrasco?
- Cortará mesmo a cabeça desse homem fraco para depois dormir com cheiro de sangue nas mãos?
- Eu sei que privilegia o silêncio e prefere obedecer do que pensar, mas eis que eu, sua consciência, resolvi chegar para condenar este rumo que tomou.

- Todo caminho tem volta. Todo machado que vai retorna. Provavelmente menos afiado, justamente por ter cortado alguma coisa.
- Não precisa condenar nem julgar ninguém! Não se sinta prepotente só porque é aclamado. Com a máscara que carrega ninguém o reconhece.
- Sua identidade é a falta de identidade. Não existe referência e nem nome. Uma incógnita infame. Depois da morte sua fama acaba. E sem máscara, o ostracismo ataca.
- É o momento que usa suas horas para se questionar, se tornando mais bestunto e cego pelos momentos de glória instantânea...

Mata! - Grita a multidão.

- Vê, para eles você faz parte da diversão. É só um elemento do espetáculo. Não o todo...

Desencorajado, o carrasco verte os olhos em lágrimas e arranca a fantasia. A platéia emudece, o espelho se quebra. O rei acomodado em seu trono nem pisca.

Depois do silêncio, um grito.
O sangue que corre é real e azul, absoluto.
Busca o pútrido esgoto.
Onde habitam os ratos que cometem calúnias.

No meio da poça da água da chuva que cai,
urra um homem,
mas ninguém o entende.

É um homem ou um animal?

3 comentários:

  1. 'Com a máscara que carrega ninguém o reconhece.'

    mas a consciência é a única que vê através dela.

    e o carrasco?

    ResponderExcluir
  2. O carrasco pode ser o homem que chora, não? :)

    ResponderExcluir
  3. sim... mas algo acontece depois de ele chorar?

    quero saber o que acontece ao carrasco após o ultimo ato.

    ResponderExcluir