terça-feira, 12 de maio de 2009

Um pouco de ódio...

Estrelas caem por todas as partes. Eu os avisei. Chamaram-me de louco e inconsequente. Agora gargalho e os chamo de porcos, enquanto o mundo é condenado junto com os que me condenaram.

É um espetáculo bonito. Provavelmente a coisa mais sublime que já vi na vida. E o pior é que nem tenho um papel para descrever tamanha resplandecência que acredito ter eu como o único observador. Os demais estão correndo sem rumo, mas uma hora eu sei que eles cansam porque são mortais e humanos.

Eu devo ser Deus pela calma que ostento. Só os deuses imperam diante do caos. Que a terra pegue fogo. Que os gritos dos moribundos deixem os outros surdos. E a mim, nada. Nada me abaterá mais!

Vou pôr o meu dedo em riste e rir da cara do pastor, do padeiro, das pessoas que me crucificaram na rua. Rirei no momento que suas vidas serão entregues ao vazio. Eu reinarei sobre os mortos da terra. Esse era o meu destino, enfim.

E esta terra negra os enterrará. Os silenciará para sempre! Não há sol ou lua que sustente um milagre. A salvação será ordenada por mim. Somente o meu desejo governa. Aliás, este vinho está muito bom e a coroa coube na minha cabeça. A visão da destruição é a melhor possível.

Olhe o homem em chamas. Outro se arrastando no chão, como se quisesse fugir do destino. Mas os abutres estão à solta e não irá se safar ninguém. Acho que posso considerar canibalismo. Abutre comendo abutre. E o imenso cheiro de carniça. Sangue fervendo tem um odor forte.

Nem que subam as labaredas, o único pedaço de terra que restará é o meu. Pelo menos até aquela última estrela cair.

3 comentários:

  1. ...Sabe Vandré eu teria motivos existenciais para ser encharcada de ódio, ressentimentos e repulsa ao semelhante. De alguma forma percebí humana o bastante e, sem preconceitos à minha natureza animal, que é incontrolável no humano, me levou a compreender aquilo que me é diverso, como sendo uma faceta de mim, ainda não percebida. Facilita a minha vida porque não exclui o outro ou eu mesma.

    Por tudo isto eu penso o ódio como necessário. Mas em dosagens salubres.
    Ódio, agressividade, ira, São força ígnea, que nos move e mantém vivos.
    Penso ainda que o homem possui instâncias psíquicas. Nestas, há traços mnêmicos que guardam as referências necessárias.

    Além disto, contextos
    sócio-históricos, também dão base, raíz e, igualmente são referência à este homem em sociedade.
    Assim, pensarei a MORAL como algo 'inventado', 'imposto'
    'enxertado', pelos 'PODERES' vigentes à cada época.

    Controlar o incontrolável, Processo civilizatório,
    Revolução Francesa, Industrialização,
    Exacerbação e valorização da técnica e mecanismos de controle,
    distanciamento das origens e eis aqui o HOMEM pós moderno.
    Bárbaro, terrorista, fundamentalista, alienado e manipulável...

    HODIERNO, ODIANDO, ATERRORIZADO, HIPERATIVO, DEPRIMIDO E SEM RUMO...

    Dominação x escravidão
    castigo x culpa
    débito x crédito
    E o ódio deste que oprime e escravisa, num círculo sem fim...

    Bem, se estivéssemos em um barzinho eu entraria madrugada adentro neste tema.
    Mas cabe o bom senso e isto não é uma aula ou um jornal.É que este tema me arrebata.
    Isto é um texto denso e pelo tanto que move minhas experiências, me fez estrapolar o espaço do comentário.

    Me perdoa. Mas este tipo de ódio que se compraz do dano a outrem, eu não concebo como positivo. Antes disto, para mim, aqui está a Vontade de Poder que perpetua o terror.

    Novamente te peço desculpas.
    Abraços,
    Mai

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  2. Primeiramente, seus comentários são verdadeiras lições de vida.
    O ódio ao outro é ruim, sim.
    Mas é apenas uma personagem que eu criei.
    Está perdoada.
    E volte sempre!
    Um beijo!

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  3. Nem tanto, Vandré. Apenas aprendiz da caminhada, vou sendo, existindo...
    Não tinha dúvidas de que um filósofo poeta, AMA mais que tudo.
    Personagens odeiam na inventividade do escritor, ator...
    Mas o fato é que odiar é bem humano, mesmo.
    Domar ou manter em doses salubres estes sentimentos, não é tarefa fácil.

    O texto retratou o sentimento de forma brilhante.

    Denso e imagético.

    Carinho,
    Mai

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