sexta-feira, 22 de maio de 2009

Loucura

O ponto de ônibus quase vazio. Duas pessoas esperam para seguirem os seus destinos. O sol já ameaça encerrar o dia para dar lugar à noite. Um fala:

- Como demoram esses troços, não é?

- Sim, responde a outra pessoa.

O primeiro faz menção de olhar o relógio. E apontando para o horizonte, diz:

- Não temos mais tempo para ver o pôr-do-sol.

- Eu nunca tive, responde a segunda pessoa.

Isso leva a um minuto de silêncio. Talvez dois. Três no máximo.
É o tempo que o ônibus vem. A primeira pessoa avança um passo, com ar satisfeito por poder finalmente tomar o rumo de casa.
Uma curiosidade o assalta e o faz tornar o cenho para trás. Fato que gera certos questionamentos, pois a segunda pessoa, que tivera uma conversa rápida, não estava mais lá.

Decerto que passou a viagem pensativo, evocando a insanidade que julgara ter desaparecido.
Enquanto o transporte se perdia num devaneio, tragado pela névoa soturna do inconsciente.

4 comentários:

  1. Sabe, Vandré,

    Tenho argumentos consistentes para sustentar que, a 'loucura' no modelo que ai assistimos, foi inventada e teve sua gênese, no pós revolução francesa.

    A partir da arqueologia da história da loucura na idade clássica e os estudos acerca dos micropoderes, panopticons, vigilância e controle social,
    encontramos relógios, a exacerbação da técnica promovendo os fenômenos que neste teu texto relatas e retratas, tão bem

    Gostei de ler.
    É isto mesmo .

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  2. A loucura é algo tão abstrato.
    Acredito que esse texto contenha só um tipo dela.
    São várias, umas escancaradas, outras disfarçadas.
    È um mundo louco esse que vivemos!

    Um beijo e obrigado pelo comentário!

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  3. E, de momentos quase ataráxicos, flutuam as mentes em torno dos debéis corpos.. Talvez um dia seja mais do que vazio, talvez um dia o vazio seja penetrado e na matéria escura nos possamos reinventar e o mais louco de todos agora irá evocar seu novo reinado por lá...

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  4. Quiçá os loucos estejam certos.
    Quem sabe a lança erguida contra o ócio não seja descabida.
    Precisamos criar.
    E tomar o rumo do infinito.

    Obrigado pelo comentário

    Um abraço!

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