sábado, 22 de agosto de 2009

Cartola

O raio corta o céu plúmbeo. Grasna o corvo, que voa assustado com o trovão. Na planície resta um homem macambúzio, que carrega na mão um cachimbo que lança fumaça de um pretume soporífero. Os outros humanos jazem no chão, entregues aos sonhos mais profundos, mas nem por isso tênues.

Em cada ser prostrado, o pequeno homem taciturno põe uma espécie de mortalha e reza palavras inaudíveis. Anda novamente e se agacha, de modo que transparece naquela ação um rito. Não cansa por tal ato e não solta um único suspiro. É o seu destino. O pensamento o leva a crer nisso.

No crepúsculo, se depara com um cão de olhos tristes e silencia qualquer movimento. A partir desse ponto, se opera a troca de olhares. E o homem se rende, retirando a cartola e cumprimentando o cachorro, que só observa.

Daí então anoitece. Devaneio desvanece. E o escritor encerra com um ponto e nada mais.

7 comentários:

  1. esse é o Machado de Assis da nova geração. que orgulho!

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  2. Hahaha!
    Quanta benevolência a sua, Sandra! :)
    Um beijo! :*

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  3. Mácio, que saudade que eu tava daqui!
    E fui muito bem recebida por (mais uma vez) um belo post!
    O legal dos seus posts é que não acabam com um ponto final, não mesmo!
    Um beijo.

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  4. A descrição que fazes, possibilita a visualização perfeita das imagens criadas, e o clima de suspense, não só desse texto, mas de outros tantos que escreveste, é o charme da tua escrita! Adoro!

    Super beijo, Márcio!

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  5. Luiza!
    Que bom tê-la aqui novamente!
    Eu tenho pretensão de aumentar esse texto depois. Quiçá um livro. ;)
    Um beijo e obrigado!

    Marília!
    Obrigado pela observação! Hehe.
    Gosto de descrever para que as pessoas vejam o que eu vejo! :)
    Um beijo e fique bem! :D

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  6. Caramba!
    'Plúmbeo'...
    Parece um estrondo!
    E me fizeste ir ao 'Aurélio', cara.
    Erudição é isso.
    E, tb. me sinto honrada em aprender novas palavras.
    Eu ia colocar jovem amigo mas o púmbleo tá no meu juízo, viu?

    Bjim.

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  7. Hahaha!
    Que é isso, Mai!
    Eu vivo indo ao dicionário também.
    Palavras, palavras.
    Segredos, segredos.
    Além.

    Um beijo!

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