Não vás. E não fui. Ainda que todo o dia, toda a vida, tivesse esperado aquele instante, único entre todos os instantes, ainda que tivesse imaginado o mundo ao pormenor depois da fronteira pequena daquele instante, não fui. Não vás. Ainda que se tivesse levantado uma cegonha a planar como um abraço que nunca demos, mas que julgámos possível, ainda que todo eu a tenha olhado, ainda que lhe tenha dito espera por mim, hoje vou buscar-te, ainda que o crepúsculo nos tenha visto onde só vão os mais sinceros, entrei neste quarto, e deitei-me nesta cama, e deixei que o instante único passasse indistinto e que toda a minha vida se tornasse um lugar penoso de instantes desperdiçados, instantes desperdiçados antes do tempo, durante o fastidioso do seu tempo, depois da memória má do seu tempo, no tédio de não ter e de não esperar nada. Não vás. E não fui. (...) Abro e fecho a porta da rua. A noite é como a conheço: negra e profunda, a isolar-me dentro de si e a dizer-me que também eu sou a noite que a noite é. Não ponho as mãos nos bolsos, deixo-as e deixo os braços. Levanto a cabeça e olho a noite no céu, não as estrelas, mas o espaço negro que as separa."
José Luis Peixoto. In.: Um olhar.
Embora a escuridão tornasse mais difícil caminhar poeta, eu já havia atingido o limite das trevas.
Minha espada está em riste. Como a sua. Delicadamente, arrebatando os inimigos.
Belíssimas palavras, Pipa. Quando não há mais treva para surgir, certamente a luz já está bem perto de aparecer. Um abraço para você e obrigado pelo comentário!
Pensei neste olhar escuro de de
ResponderExcluirNão vás. E não fui. Ainda que todo o dia, toda a vida, tivesse esperado aquele instante, único entre todos os instantes, ainda que tivesse imaginado o mundo ao pormenor depois da fronteira pequena daquele instante, não fui. Não vás. Ainda que se tivesse levantado uma cegonha a planar como um abraço que nunca demos, mas que julgámos possível, ainda que todo eu a tenha olhado, ainda que lhe tenha dito espera por mim, hoje vou buscar-te, ainda que o crepúsculo nos tenha visto onde só vão os mais sinceros, entrei neste quarto, e deitei-me nesta cama, e deixei que o instante único passasse indistinto e que toda a minha vida se tornasse um lugar penoso de instantes desperdiçados, instantes desperdiçados antes do tempo, durante o fastidioso do seu tempo, depois da memória má do seu tempo, no tédio de não ter e de não esperar nada. Não vás. E não fui. (...) Abro e fecho a porta da rua. A noite é como a conheço: negra e profunda, a isolar-me dentro de si e a dizer-me que também eu sou a noite que a noite é. Não ponho as mãos nos bolsos, deixo-as e deixo os braços. Levanto a cabeça e olho a noite no céu, não as estrelas, mas o espaço negro que as separa."
José Luis Peixoto. In.: Um olhar.
Embora a escuridão tornasse mais difícil caminhar poeta, eu já havia atingido o limite das trevas.
Minha espada está em riste. Como a sua. Delicadamente, arrebatando os inimigos.
Te abraço com ternura e infinito carinho.
Belíssimas palavras, Pipa.
ResponderExcluirQuando não há mais treva para surgir, certamente a luz já está bem perto de aparecer.
Um abraço para você e obrigado pelo comentário!
Ir além, após limites definidos, após espaços, após o esperado,após o imaginável, após...
ResponderExcluirBeijos!