domingo, 13 de junho de 2010

Fantasma

Serei fantasma.
Já antes estava morto,
perambulando pelas calçadas de cimento com meus pés descalços.
Pensava eu que as feridas eram um sinal de vitalidade.
Estas, entretanto, acabaram por me ajudar a desvanecer.

A voz sumiu.
Restou o pranto,
que enquanto viveu,
não abandonou o coração,
mesmo quando este incendiado estivera.

Brasas são poucas.
Quase extintas.
Há muito cinza.
Muitas cinzas.
Severas memórias.

O céu enegreceu sem nenhuma estrela.
Sem me mostrar o cruzeiro do sul.
Ou do norte.
O céu tingiu-se de bréu,
e não há nuvens para me apontar a direção do vento.

Só vejo raios que parecem rasgar como papel o nitrogênio que não alcanço.
Não levanto as mãos,
nem clamo mais.
O clamor buscou um atalho e perdeu-se,
obliterando em seguida pelo machado do minotauro.

Serei fantasma,
porque invisível.
Como o meu amor assim o fora considerado.

Serei fantasma,
porque não tenho cor,
e não aceito o silêncio dos sete palmos.

4 comentários:

  1. Caro Márcio,
    Este poema é de ler e calar, e se cala é porque toca no fundo da alma. Quantos não sentem o mesmo? Quantos? São tantos!
    Grande abraço.

    Ivan Bueno
    blog: Empirismo Vernacular
    www.eng-ivanbueno.blogspot.com

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  2. Eu não tenho absolutamente nada a comentar. Nada.

    Que poema...profundo...de dor.

    Doeu
    =(
    Um beijo, marcinho! ;*

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